quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Réquiem ao Venício Lucílio

Réquiem ao Venicio Lucílio.


Vai-se longe o ano de 1996 quando conheci o “blindado”. Selecionamos alguns policiais para um curso de operações especiais a ser realizado na ACADEPOL/MG sendo que ao seu final os aprovados seriam transferidos para o DEOEsp, prática esta que há muito tempo deixou de ser feita, estando Venicio nesta turma. Ele destoava dos demais colegas por ser primeiro extremamente forte e segundo por ser extremamente disciplinado. Talvez nunca tenha trabalhado com alguém que tinha tanta disposição para o trabalho como ele, não tendo hora e nem lugar para trabalhar. Para ele era sempre uma satisfação estar empenhado em qualquer tipo de serviço, repito, qualquer tipo de serviço, de um estouro de cativeiro a uma escolta de presos, todos eles o fazia com a maior disposição.

Naquele corre corre que são os corredores do DEOEsp , quando as equipes são acionadas para algum serviço urgente, Venicio com aquele corpanzil agitado e falando alto ao pegarem armas e demais equipamentos, era o único que preocupava-se antes de pegar a sua arma, colocar o colete a prova de balas. Quando alguém o indagava ou mesmo o “sacaneava” ele apenas dizia que aquilo era uma obrigação do policial se proteger para depois proteger a sociedade. E lá ia o “blindado” com o colete enquanto os outros não tinham a mesma preocupação.

Por isto, quando um fato deste acontece, ficamos a nos perguntar? Existe realmente o destino, não é Dr. Sérgio Francisco de Freitas, com quem conversávamos a respeito. Existe uma linha traçada por alguém superior a quem não nos é permitido transgredir estas normas, ou não? Deixamos de entender o porque Venicio não estava naquele dia fatídico, de 04 de outubro de 2003 usando o colete a prova de balas, ele tão cioso de sua própria proteção, assim como os outros companheiros do carro, assim como eu e novamente o Inspetor André Lorens em Taubaté-SP. O que faz com que nós policiais civis não nos protejamos quando do atendimento de uma ocorrência policial? São perguntas que gostaria de deixar a todos os colegas e que refletissem muito bem sobre isso.

Quando do meu acidente na Rodovia Dutra, em 1997, e tão logo recuperei, ao voltar a dar aulas de Treinamento de Ação Policial na ACADEPOL/MG obrigamos a todos os alunos a que usassem os coletes em todas as operações de treinamento para que aquilo se tornasse um hábito, da mesma forma quando do treinamento do G.E.R. – Grupo Especial de Resgate – a SWAT mineira dentro do DEOEsp, sendo um item obrigatório o colete e deste grupo fazendo parte o nosso saudoso colega.

Portanto neste momento de tristeza ao perdermos um excelente colega e um excepcional policial, gostaria de deixar uma mensagem a todos aqueles que trabalham no serviço operacional, mesmo que seja para uma prisão onde sabemos que não devem ocorrer maiores problemas, maiores confrontos, que POR FAVOR, utilizem o colete que me permitam chamar de SALVA-VIDAS, conhecido comumente como “a prova de balas”, para que não tenhamos o desprazer de chorar mais uma vez por colegas mortos em combate.

Venicio. Você combateu um bom combate. Descanse em paz.


Elson Matos da costa
Delegado Geral de Polícia

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