quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Despedida de um Policial

Extraído do Boletim Interno da Polícia Civil de 01 out 2003 – n.º 184


Despedida de um policial.


Tudo que começa, um dia acaba. E tudo começou nos idos de 1975 com o ingresso na carreira de Escrivão de Polícia, ainda na Rua 21 de abril, ao lado da Rodoviária, onde funcionava a ACADEPOL/MG. A partir daí iniciava-se uma carreira que fundamentalmente, foi construída no interior de Minas Gerais, de Escrivão a Delegado de Polícia, passando por Guaxupé, Muzambinho, Alterosa, Ouro Preto, Perdões, Lavras e, finalmente, Belo Horizonte, onde se assentou, enfim, freqüentando, na ACADEPOL/MG, um Curso de Operações Especiais, com duração de oito meses.

A seguir, um período de aprendizado de 01 (um) ano na Divisão de Tóxicos e Entorpecentes, para entender como funciona a Polícia da Capital, tendo, finalmente, “aportado” no lugar aonde viria a se sentir totalmente bem, D.E.O.Esp.- Departamento Estadual de Operações Especiais. Ali estava o órgão, onde a sua carreira de Delegado de Polícia iria deslanchar, saindo da Classe II a Geral, sempre por merecimento, durante um período de 12 anos.

Não poderia deixar de lembrar da oportunidade de ter trabalhado com grandes policiais, principalmente no DEOEsp – Departamento Estadual de Operações Especiais. Tais policiais deram-lhe a chance de explorar o potencial que existia dentro de si, naquelas operações de verdadeiros “malucos”, onde enfrentavam qualquer quadrilha que preciso fosse. Por isso, as suas maiores operações sempre foram extra-fronteiras de Minas Gerais e onde ficaram, nacional e até mesmo internacionalmente conhecidos pelas sucessivas vitórias.

No entanto, como não se poderia antever, em 11 de janeiro de 1997, em uma dessas operações, na Via Dutra, defronte à cidade de Taubaté, durante um pagamento de resgate de um sequestro, ocorrido na cidade de Divinópolis-MG, foi duramente atingido por diversos projéteis, ficando entre a vida e a morte, num leito de CTI. Nos poucos momentos de consciência, deitado na cama de um hospital, quando a sedação deixava, toda a sua vida desfilava diante de seus olhos, como em um filme, e, ficava se perguntando se, realmente, tinha valido a pena.

Não demorou muito e sobreveio a resposta. Apesar do sofrimento, das dores atrozes que sentia e até mesmo do estado de letargia de que se encontrava, era que SIM! Tinha valido a pena!!!

Hoje, eu, Elson Matos da Costa, entendo que, sem adrenalina, sempre despejada, aos borbotões, na corrente sangüínea, talvez eu não tivesse conseguido viver tão intensamente a minha vida profissional COMO VIVI e, onde poucos experimentaram esta agradável sensação de VIVER, além da plena satisfação do dever cumprido, restituindo, às famílias, aqueles entes tão esperados.

Naqueles momentos, quantas e quantas vezes, ao olhar para aqueles policiais bravos, ferozes, indiferentes na aparência, verificava que lágrimas lhes escorriam pelos rostos e, como não era diferente deles, também chorava, porque assim como eles, tinha plena consciência de termos cumprido, com sucesso, mais uma missão, da qual fomos incumbidos.

Por isso, ao ser guindado ao cargo de Superintendente Geral da Polícia Civil de Minas Gerais, em um convite que, diga-se, de passagem, muito me honrou, do Exmo. Senhor Chefe da Polícia Civil, Dr. Otto Teixeira Filho, posso dizer, com todo o orgulho do mundo, ter completado, com satisfação, o meu ciclo de passagem pela nossa apaixonante Polícia Civil, e, como diz o refrão do hino de um time vencedor, e, sem nenhuma modéstia, o próximo Campeão Brasileiro de Futebol: “...tão combatido, jamais vencido”.

No entanto, as seqüelas daquele acidente de 1997 ainda se fazem presente, principalmente em minhas pernas. Fui obrigado, inclusive, a deixar de fazer algo, para mim, mais gratificante, que era jogar futebol, devido à deficiência de circulação sangüínea e uma insistente osteomielite (infecção no osso), que dificultam o meu dia-a-dia, causando-me inchaço nos pés e uma ardência constante que, portanto, não permitem que eu tenha uma vida totalmente normal, apesar da mesma nunca ter sido, como se diz, VERDADEIRAMENTE NORMAL, partindo-se do ponto de vista das pessoas comuns.

Em vista de tudo isso, nesta data, estou pedindo o meu afastamento para tratamento de saúde e, posteriormente, a minha aposentadoria e, apesar de não considerar-me um velho, deixando para os mais jovens a oportunidade de galgar os postos mais cobiçados da Polícia Civil como o que agora estou deixando.

Por isso, gostaria de deixar a minha mais sincera gratidão a todos que me ajudaram neste longo caminho, e, que fizeram com que um simples policial do interior de Minas Gerais pudesse ocupar tão importantes cargos em nossa instituição. Durante este percurso evidentemente não pude agradar a todos, mas sempre procurei ser o mais profissional possível, independentemente de quem estivesse ao meu lado, amigo ou não. No entanto, mesmo com minha ausência, espero que continuem auxiliando o Dr. Otto Teixeira Filho em sua caminhada para a permanência da Polícia Civil em seu local de destaque no cenário da Segurança Pública de Minas gerais, nessa tentativa de contenção, incessante, cotidiana e sem tréguas, à criminalidade.

Muito obrigado a todos que, comigo, trabalharam e, também, àqueles que, mesmo à distância, contribuíram, permitindo, não apenas a minha ascensão profissional, mas, em especial, o “crescimento” de um homem e a estruturação de sua família.

Belo Horizonte, 26 de setembro de 2003.



Elson Matos da costa
Delegado Geral de Polícia
Superintendente Geral da Polícia Civil

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