quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Negociação de Reféns

Como funciona a negociação de reféns


por Ed Grabianowski - traduzido por HowStuffWorks Brasil

Introdução

Uma situação de refém é o pior momento de um caso de cumprimento da lei, porque coloca civis inocentes diretamente no caminho do perigo. Uma intervenção armada se torna muito arriscada, pois os próprios reféns podem ser feridos tanto por uma bala perdida quanto pelo seqüestrador. Isso faz com que a negociação seja o aspecto mais importante de qualquer crise com reféns. Um negociador habilidoso deve descobrir o que o seqüestrador quer, quem é ele ou ela e o que vai ser preciso para um final pacífico, tudo enquanto garante a segurança dos reféns e de espectadores.

Idealmente, uma situação de refém acaba com todos os bandidos indo embora (ainda que com alguns deles algemados). Neste artigo, vamos ver o que acontece na cena de uma negociação de reféns, como um negociador finaliza o trabalho e o que é necessário para se tornar um negociador de refém profissional. Também daremos uma olhada na psicologia dos seqüestradores e dos próprios reféns.

A situação de reféns

Embora as situações de reféns possam variar muito com base nas motivações do seqüestrador e nas exatas circunstâncias que envolvem o incidente, há alguns fatos básicos que se aplicam para todas estas situações.

· O seqüestrador quer algo para obter alguma coisa. Isso pode ser tão simples como dinheiro, segurança pessoal ou uma passagem segura para outro país, ou pode envolver complicados objetivos políticos.

· O alvo do seqüestrador não é o refém, é uma terceira pessoa (uma pessoa, uma empresa ou um governo), que pode fornecer o que quer que seja que o seqüestrador queira.

· Os reféns são apenas o meio para a barganha. Eles podem ter valor simbólico (como nos Jogos Olímpicos de Munique em 1972, em que o alvo era o governo israelense e os reféns eram os atletas israelenses), mas os reféns podem ser qualquer pessoa.

As situações de reféns passam por várias fases diferentes:

1. Fase inicial - essa fase é violenta, breve e dura tanto quanto os seqüestradores precisam para atacar e dominar os reféns. O final dessa fase geralmente é marcado pela apresentação das exigências dos seqüestradores;

2. Fase de negociação - nesse ponto, os oficiais da lei estão em cena e as exigências provavelmente foram recebidas. Essa fase pode durar horas, dias ou meses e também pode ser referida como "a fase do impasse". Fisicamente, nada sobre a situação muda muito. Os reféns e seus seqüestradores permanecem no mesmo lugar. Entretanto, muita coisa está acontecendo durante essa fase em termos do desenvolvimento da relação entre todos os envolvidos. O trabalho do negociador concentra-se em manipular tal relação de modo que o resultado seja um final pacífico;

3. Fase terminal - essa é breve, e algumas vezes podem ser violentas. Essa fase tem um de três resultados:

1. O seqüestrador se entrega pacificamente e é preso
2. A polícia ataca o seqüestrador matando-o ou prendendo-o
3. As exigências do seqüestrador são concedidas e ele escapa

O destino dos reféns não depende necessariamente do que acontece durante a fase terminal. Mesmo que os seqüestradores desistam, eles podem ter matado os reféns durante as negociações. Muitas vezes, os reféns são mortos tanto acidentalmente pela polícia quanto intencionalmente por seus captores durante o ataque. Já houve casos em que os seqüestradores tiveram suas exigências concedidas, mas mataram um refém assim mesmo.

Também há o estágio pós-incidente, no qual os efeitos do incidente perdem a eficácia. Esses efeitos podem ser mudanças no status da responsabilidade de grupo, mudanças na relação entre governos mundiais ou aumento na segurança.

Agora que vimos como a maioria das situações de reféns é parecida, vamos ver em que aspectos algumas são diferentes de outras.

Os seqüestradores

Uma das primeiras coisas que um negociador faz quando chega na cena de uma crise de refém é descobrir o que for possível sobre o seqüestrador. A questão mais básica é: por que essa pessoa tomou alguém como refém? Há algumas razões comuns.

· O seqüestrador pode ser emocionalmente ou mentalmente perturbado. Sua razão específica para dominar um refém pode ser ilógica. Ele pode ser suicida. Esse é o único tipo de situação em que o refém é muitas vezes parente do seqüestrador. Esse tipo de situação de refém não é planejado.

De acordo com o tenente Gary Schmidt, do Departamento de Polícia de Cheektowaga, em Cheektowaga, NY, esse é o tipo de situação de refém que o policial enfrenta muitas vezes. "Na maioria das vezes, é apenas uma pessoa envolvida em uma disputa doméstica, entrincheirada em casa. Os reféns são membros da família no mesmo edifício".

· Alguns criminosos usam inocentes espectadores curiosos como escudos humanos para se proteger da polícia. Na maioria dos casos, isso acontece quando um criminoso é pego, entra em pânico e agarra um refém para ajudá-lo a escapar. Em casos raros, os reféns são parte de um plano usado por criminosos profissionais para ajudá-los a escapar, mas geralmente isso não é planejado.

· A situação de refém mais famosa da história foi o resultado de um ataque cuidadosamente planejado por terroristas e grupos políticos radicais. Os seqüestradores tinham intenção desde o começo de negociar as vidas dos reféns por objetivos específicos. Isso pode variar de mudanças na política de um ou mais países, liberação de prisioneiros políticos ou revogação de leis específicas. Os grupos terroristas também podem ter objetivos que alcancem independentemente do resultado: desestabilizar o alvo de seus ataques e atrair a atenção para sua causa.

Seqüestro é uma forma de crise de refém, mas não se assemelha à típica situação na qual o seqüestrador fica entrincheirado em uma área conhecida. Os seqüestradores mantêm seu refém em um local secreto e os contatos são muitas vezes em apenas uma direção: os seqüestradores dizem às autoridades o que fazer. Como resultado, não há muita negociação.

Independentemente da motivação do seqüestrador, o elemento básico da negociação permanece o mesmo. "Você trabalha para construir uma harmonia e encorajá-los a chegar a um final pacífico. As mesmas técnicas são usadas sempre que alguém está em crise", afirmou o tenente Schmidt.

Na próxima seção, vamos descobrir o que um negociador faz na cena de uma situação de refém.

O negociador chega na cena

Na cena de uma crise com refém, os agentes mais importantes são o comandante, que tem a autoridade sobre a cena total e todo o pessoal envolvido, e o negociador, que se comunica diretamente com os seqüestradores. É vital que essas duas posições não sejam mantidas pela mesma pessoa. O negociador tem de manter um ponto de vista objetivo e permanecer calmo: as duas coisas podem ser difíceis se ele estiver tomando as decisões simultaneamente. Além disso, uma das táticas mais úteis do negociador é causar atrasos dizendo para os seqüestradores que as altas autoridades devem ser consultadas antes que uma decisão possa ser tomada ou uma concessão oferecida. Se o negociador for uma alta autoridade na cena, isso obviamente não funciona.

A prioridade do negociador no início da negociação é juntar informações. Muita informação virá de outros oficiais na cena que fizeram o reconhecimento da área ou investigaram os antecedentes dos seqüestradores, mas o negociador pode aprender muito dos próprios seqüestradores. O negociador deve descobrir quem são os seqüestradores, por que eles estão mantendo as pessoas como reféns, quais são suas exigências, quem é seu líder e se há mais de um. Ao mesmo tempo, o negociador está prestando muita atenção às respostas do seqüestrador, maneirismos e atitudes em geral para criar um esboço do perfil psicológico. Isso pode dar ao negociador algumas pistas de como o seqüestrador deve responder a certas situações. Um negociador lida de formas muito diferentes com um depressivo, um seqüestrador suicida e um pragmatista frio e racional.

Negociadores acidentais

Os negociadores em situações de reféns nem sempre são profissionais treinados. Às vezes, um espectador curioso acaba se envolvendo, talvez porque a pessoa domina diferentes idiomas ou simplesmente porque atende um telefone. Em 1975, o grupo terrorista Exército Vermelho Japonês atacou o Consulado Americano em Kuala Lampur, Malásia. Os terroristas fizeram uma ligação telefônica para notificar as autoridades americanas que eles tinham reféns, e um agente júnior da embaixada teve o azar de atender a ligação. Os agentes do Exército Vermelho Japonês se recusaram a falar com qualquer outra pessoa durante toda a crise (Antokol, p. 135).
Quando possível, os oficiais da lei trazem um negociador profissional para auxiliar esses "negociadores relutantes".


Os objetivos e as táticas do negociador

Trabalho de equipe

Os negociadores de reféns podem trabalhar em equipes, com um negociador principal e outro secundário. O negociador secundário ouve toda a comunicação entre a polícia e o seqüestrador, toma notas e providencia apoio, auxílio e sugestões para o negociador principal. Algumas vezes, o principal "empaca" e não consegue pensar na coisa certa a dizer, então o secundário pode ajudar.
Os objetivos do negociador principal são:

Prolongar a situação - quanto mais a situação durar, é mais provável que termine pacificamente. As táticas incluem os pretextos, enquanto um oficial de maior autoridade é consultado, conseguindo que os prazos sejam repelidos, enfocando a atenção dos seqüestradores em detalhes como o tipo de avião que eles querem e fazendo perguntas abertas para eles ao invés de perguntas de "sim" ou "não";

Garantir a segurança dos reféns - isso significa convencer o seqüestrador a permitir tratamento médico ou a liberação de reféns doentes ou feridos, negociando a entrega de comida e água e a liberação de quantos reféns for possível. Conseguindo que alguns dos reféns saiam da situação não apenas garante sua segurança mas também simplifica a situação no caso da necessidade de um ataque armado. Além disso, a liberação de reféns pode fornecer valiosas informações sobre o local e os hábitos dos captores e outros reféns;

Manter as coisas calmas - desde o ataque inicial e durante todas as primeiras horas de negociações, os seqüestradores podem ser extremamente explosivos. Eles geralmente estão com raiva de algo que consideram uma injustiça e que os levou a fazer reféns e cheios de adrenalina seguida de excitação por causa do ataque. Pessoas com raiva e excitadas portando metralhadoras não são boas para os reféns. O negociador nunca deve discutir com o seqüestrador ou dizer "não" a uma exigência. Em vez disso, deve usar táticas de protelação ou fazer uma contra-oferta. Acima de tudo, ele deve manter uma atitude positiva e otimista, reassegurando ao seqüestrador que tudo vai terminar em paz;

Encorajar o crescimento da relação entre o negociador e o seqüestrador e entre ele e os reféns - o negociador deve parecer crédulo para o capturador. Isto é, deve agir como se entendesse as razões para as ações do seqüestrador mas ainda se apresentar forte - não apenas ansioso para comprazê-lo. O negociador também pode encorajar as atividades que pedem cooperação e interação entre os captores e os reféns, como enviar comida e medicamentos em grandes pacotes que precisam ser preparados. Quando o seqüestrador consegue conhecer os reféns e os vê como seres humanos, se torna mais difícil executá-los. Em um impasse com reféns em 1975 em um trem na Holanda, um refém, Robert de Groot, escolhido para morrer, foi poupado pelos terroristas, que o ouviram rezar por sua esposa e seus filhos. Alguns dos seqüestradores choraram, e dois deles concordaram em evitar um tiro letal quando eles o empurraram do trem. Ele rolou por um dique e saiu ileso, fingiu de morto e escapou um pouco depois (Barker, p. 33). Quando os terroristas escolheram outro refém para a execução, não permitiram orações, matando-os rapidamente para evitar tensão emocional.

A seguir, vamos descobrir como os negociadores equilibram a segurança dos reféns com a realidade política.

Síndrome de Estocolmo

Passar horas, dias e meses juntos não apenas alimenta sentimentos da parte do seqüestrador em relação ao refém. Os reféns muitas vezes também desenvolvem simpatia por seus captores. Isso é conhecido com Síndrome de Estocolmo, batizada por causa de um assalto a banco sueco que deu errado, resultando em um seqüestro de seis dias. Os reféns acabaram auxiliando o assalto, agindo como observadores e aconselhando o assaltante, enquanto gradualmente passavam a ver a polícia do lado de fora como inimiga. Umas das mulheres entre os reféns até mesmo se casou com seu seqüestrador enquanto ele ainda estava na prisão.

Há razões psicológicas complicadas para a Síndrome de Estocolmo. Em parte, é um mecanismo de defesa que permite que a pessoa enfrente uma situação que, do contrário, seria insustentável. Também tem algo a ver com poder: o seqüestrador tem o poder de matar os reféns e, quando ele não o usa, o alívio do refém pode se transformar em gratidão, eventualmente desenvolvendo simpatia. Além disso, o medo da polícia entrar rapidamente na situação e matar os reféns acidentalmente em um tiroteio é muito poderoso e ajuda a fazer com que os reféns se virem contra as autoridades

Fazendo um acordo

Um seqüestrador ameaça o capitão John Testrake enquanto ele se recosta no assento do piloto do vôo 847 da TWA em Beirute, em junho de 1985.

No início da crise com reféns, as exigências dos seqüestradores geralmente não são razoáveis. Eles podem pedir enormes somas de dinheiro ou a libertação de milhares de companheiros terroristas das prisões. É claro que o negociador não pode apenas dar a eles qualquer coisa que peçam, mesmo que isso signifique segurança para os reféns. As polícias de qualquer nação envolvida, a habilidade para realmente adquirir os itens a serem exigidos e a necessidade de consultar o comandante da situação e os altos oficiais políticos, tudo limita o que o negociador pode oferecer aos seqüestradores. Além do que, se alguém que fizer reféns imediatamente tiver todas suas exigências concedidas, o mundo enfrentaria uma crise após a outra.

Entretanto, o negociador pode "contribuir" com a situação oferecendo concessões menores, como comida e água, promessas de transporte e cobertura da mídia. Em retorno, os seqüestradores podem trocar alguns dos reféns ou algumas de suas armas ou concordar em reduzir suas exigências. Continuando esse processo, o negociador pode gradualmente enfraquecer a posição do seqüestrador.

A maioria dos países tem oficiais de polícia ligados à negociação com terroristas. Entretanto, esses policiais mudam com o tempo, e tendem a ser flexíveis dependendo da situação. Se os reféns são crianças ou políticos importantes, mesmo o governo mais linha-dura e que não aceita negociar faz a exceção. Em muitos casos, acordos secretos são feitos permitindo que o governo aceite as exigências e salve os reféns, mas mantendo sua postura linha-dura em público contraria a ceder às exigências dos terroristas.

Israel, Estados Unidos e Rússia são as nações que têm a reputação de políticas restritas e não negociáveis. Contudo, toda política está aberta a exceções. Um exemplo é o do seqüestro do vôo 847 da TWA, em 1985. Os seqüestradores do Hezbollah exigiram a liberação de mais de 700 xiitas que estavam em prisões israelenses. Após uma longa provação, todos os reféns foram liberados (exceto um americano, assassinado pelos seqüestradores), e Israel liberou 766 prisioneiros.

Os jogos olímpicos de Munique de 1972

O ataque e o cerco da Vila Olímpica em Munique nos jogos de verão de 1972 foram desencadeados por uma advertência: duas cartas haviam sido enviadas para os oficiais olímpicos solicitando que os atletas palestinos fossem reconhecidos e que tivessem permissão para participar. Nenhuma das cartas foi considerada. Em 5 de setembro, um grupo autodenominado Setembro Negro matou vários atletas israelenses e se garantiu no processo fazendo nove reféns israelenses.

As negociações duraram menos de 24 horas, e enquanto isso os seqüestradores exigiam a liberação de centenas de palestinos de prisões na Europa e no Oriente Médio. Os negociadores recusaram os prazos repetidamente até as 10 horas da noite, quando os oficiais da Alemanha Ocidental perceberam que não conseguiriam cumprir as exigências dos terroristas. Eles aceitaram o pedido dos seqüestradores e entregaram a eles um ônibus para que fossem para os dois helicópteros que os levariam para o aeroporto. Lá, embarcaram em um avião. Os alemães sabiam que sua única chance em um ataque de sucesso aconteceria no aeroporto (Aston, p. 80).
O tiroteio e a batalha de granadas, ocorridos pouco depois de os helicópteros pousarem no aeroporto, acabaram matando todos os reféns, bem como os policiais e um piloto. Cinco dos terroristas foram assassinados e três, capturados


Não fazendo um acordo

Embora recusar negociar com os terroristas seja muitas vezes a idéia popularmente política (ninguém quer "ceder" aos terroristas), isso pode ser desastroso. Mesmo que o governo não tenha intenção de conceder as exigências, o próprio processo de negociação é vital para alcançar uma resolução pacífica. Dois dos maiores e horríveis incidentes com reféns na história terminaram em tragédia em grande parte pela total recusa da Rússia em negociar com os separatistas chechenos muçulmanos.

Em outubro de 2002, terroristas armados invadiram um teatro russo, ameaçando explodi-lo se suas exigências para a retirada russa da região chechena não fossem cumpridas até o prazo que eles deram. Os russos esperaram vários dias antes de indicar um diplomata oficial do governo para conduzir as negociações, e depois decidir atacar o teatro usando "gás nocauteante" em vez de negociar mais. No final, 129 reféns morreram, quase todos por causa do gás venenoso. Embora um pobre planejamento e uma falta de cuidados médicos adequados tenham sido os culpados pela alta taxa de mortalidade, outras negociações poderiam ter reduzido o número de casualidades.

Infelizmente, a história se repetiu em 2004, quando separatistas chechenos invadiram uma escola primária em Beslan com um arsenal de armas e bombas. Novamente, os russos recorreram ao ataque armado, com resultados trágicos. Os seqüestradores explodiram o ginásio onde estava a maioria dos reféns. Mais de 300 reféns foram mortos, sendo mais da metade crianças.

Diferentemente, a França tinha a reputação, nos anos 70 e 80, de nação que estava disposta a negociar e fazer acordos com os terroristas. O resultado foi que a França se tornou o primeiro alvo dos ataques terroristas, e os grupos terroristas que fizeram acordos com o governo da França geralmente não os cumpriam.

A seguir, vamos examinar um caso de uma negociação de refém.

Estudo de caso: Princes Gate

Em abril de 1980, membros do Movimento Revolucionário Democrático para a Liberação dos Arabistas tomaram a embaixada em Princes Gate, em Londres, Inglaterra. Os terroristas fizeram 26 reféns em sua busca de liberação para a província iraniana arabista.

Os negociadores mantiveram o líder dos terroristas falando por três dias, dando a ele a cobertura da mídia conforme sua exigência (apesar de um trabalho de reportagem malfeito pela BBC que o deixou com muita raiva) e ganhando a libertação de dois reféns doentes. Eles ganharam sua confiança e o fizeram adiar vários prazos. Eles o mantiveram focado em detalhes sem importância, como o tipo de ônibus que ele queria e o tipo de comida a ser trazida.

Durante todo o impasse, a polícia foi trabalhando para conseguir informações sobre o interior do prédio, um complexo de escritórios. As informações chegavam por meio de reféns libertados, entrega de comida e câmeras e microfones pendurados nas chaminés ou através das paredes.
Infelizmente, os terroristas executaram um refém (segundo se soube, porque ele discutiu os méritos do Islã com eles), o que forçou as forças britânicas a entrarem em ação. Eles combinaram um ataque planejado com cuidado, com o negociador providenciando a distração. Essa foi uma brecha do protocolo padrão: geralmente os negociadores não são informados quando vai haver um ataque porque é muito difícil dar alguma pista pelo tom de voz ou escolha das palavras. Nesse caso, contudo, manter o líder dos terroristas no telefone o deixou longe das janelas, dando às tropas algum tempo extra para entrar no edifício antes que os seqüestradores descobrissem o ataque.

O ataque teve relativo sucesso. Os terroristas mataram um refém quando perceberam que estavam sob ataque, e o resto dos reféns escapou do edifício com vida. As forças britânicas mataram cinco terroristas durante o combate, incluindo o líder, e prenderam o sexto.
Para saber tudo sobre a situação em Princes Gate, veja Operação Nimrod: O ataque SAS em Princes Gate (site em inglês).

Na próxima seção, vamos descobrir como alguém se torna um negociador de refém profissional.
Como manda o figurino

O tenente Schmidt descreveu um incidente relativamente comum que foi resolvido pacificamente porque os negociadores seguiram o treinamento. A primeira ligação telefônica veio de uma mulher que estava envolvida em uma briga com o marido, que ficou com raiva e carregou um revólver. Embora ele não tenha apontado a arma para ela, ela estava tão apavorada que chamou a polícia de outra parte da casa, secretamente.

Quando a polícia de Cheektowaga atendeu, eles prepararam uma unidade tática, que é a equipe da SWAT, para estabelecer o perímetro ao redor da casa. Uma unidade de apoio tático, que monta os equipamentos de comunicação, lida com a logística e inclui os negociadores, deu suporte à equipe da SWAT. Quando é possível, a unidade de apoio tático usa dois negociadores: um principal e outro secundário. Nesse caso, o tenente Schmidt estava atuando como secundário.
Eles fizeram o contato por telefone com o seqüestrador e continuaram a negociar com ele por várias horas. O negociador desenvolveu uma certa harmonia, discutindo os problemas conjugais que o levou até aquele "ponto crítico". Embora ele ainda não tivesse atirado ou mirado em alguém, ameaçou usar a arma; então, havia perigo real para a refém e para a polícia. No final, por causa da relação que criaram, foram capazes de convencê-lo a deixar a arma dentro da casa, sair pela porta da frente e se entregar. "É muito importante conseguir que eles deixem suas armas para trás quando se entregam", disse o tenente Schmidt.

A equipe da SWAT levou o seqüestrador em custódia sem incidentes.



Tornando-se um negociador de reféns

O caminho para se tornar um negociador profissional pode ser tortuoso. Há treinamentos e certificações, mas um aspecto importante de lidar com uma crise é a experiência. Alguém recém-formado pode fazer todos os cursos de negociação oferecidos e ainda assim não conseguir um emprego como negociador. A base da carreira do negociador são vários anos trabalhando como oficial da lei (com o departamento de polícia, FBI ou outro grupo da lei) ou como militar e lidando com situações de crise regularmente. "Você afia suas habilidades como um oficial, porque você fala com as pessoas o tempo todo. Muitas pessoas com quem você conversa, mesmo não estando em uma "crise oficial", estão em alguma situação de crise", disse o tenente Schmidt. "Você aprende muito apenas da atividade de ouvir e interagir com as pessoas".

Foto cedida FBI.govDesempenhando um papel - nesse caso, atuar em uma situação de refém tem se tornado um marco da seleção de recrutamento da polícia

A educação e o treinamento são importantes também, e há muitos cursos sendo oferecidos para ajudar os oficiais de polícia, agentes do FBI, militares e outros a aprenderem como negociar em uma situação de refém. A Agência Pública do Conselho de Treinamento (PATC), uma empresa privada que oferece cursos de treinamento para agências da lei, tem cursos sobre como lidar com pessoas emocionalmente instáveis, táticas específicas para usar em negociações e cursos completos de negociador. A Associação Internacional de Negociadores de Reféns também administra seminários e cursos.

Um treinamento de negociador de refém nunca é completo. O FBI e outras agências oferecem recorrentes seminários de treinamento. Os negociadores de crise do Departamento de Polícia de Cheektowaga se uniram a equipes de outras agências da lei em suas regiões para formar uma associação que se encontra várias vezes por ano para oferecer críticas, sugestões e apoio.
Para explorar um exemplo de processo de treinamento para um negociador de refém e descobrir que tipo de fatores avaliam os candidatos a negociadores, veja o Guia de Estudo de Negociação de Refém de 2003 (em inglês), desenvolvido em conjunto pela Associação Internacional dos Chefes de Polícia e pelo Centro de Treinamento da Força da Lei Federal.

Para mais informações sobre negociações de reféns e assuntos relacionados, confira os links na próxima página.


Fontes
· Antokol, Norman e Nudell, Mayer. Nenhum Neutro: Refém Político - Feito no Mundo Moderno. Alpha Publications, 1990. 0-939427-78-8.
· Aston, Clive, C. Uma Crise Contemporânea: Feito de Refém Político e a Experiência da Europa Ocidental. Greenwood Press, 1982. 0-313-23289-x.
· Centro para o Conflito Contemporâneo: A Crise de Reféns de Moscou: Uma Análise dos Objetivos dos Terroristas Chechenos.http://www.ccc.nps.navy.mil/si/may03/russia.asp
· Barker, Ralph. Não Aqui, mas em Outro Lugar. St. Martin's, 1980. 0-312-57961-6.
· Miller, Abraham. Terrorismo e Negociação de Reféns. Westview Press, 1980. 0-89158-856-6.
· Special Operations.com: Seqüestro do Trem de De Punt.http://www.specialoperations.com/Counterterrorism/De_Punt.html

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