quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Localização de Cativeiro

Localização de Cativeiro

É o ápice da investigação na Extorsão Mediante Seqüestro. Todo policial procura nas suas investigações encontrar o local onde a vítima é mantida refém, uma porque irá libertar uma pessoa inocente de seus algozes, outra é que irá possibilitar prender e/ou identificar os autores do delito. Neste local mesmo que os seqüestradores consigam fugir haverá a possibilidade da coleta de indícios suficientes para indiciar os suspeitos mesmo que haja negativa por parte deles posteriormente de terem participado deste crime hediondo. É um passo extremamente importante no desenrolar do trabalho policial que muitas vezes estende-se por semanas a fio.

O que está sendo muito utilizado pelas quadrilhas atualmente é a terceirização do seqüestro, sendo que tudo é compartimentado, ou seja, o “soldado” do cativeiro não tem conhecimento de quem sejam os outros envolvidos e portanto caso o cativeiro seja descoberto ele não terá condições de apontar os responsáveis pelo crime. Da mesma forma pode haver compartimentação na captura da vítima bem como no da negociação e com isto os marginais asseguram a sua impunidade caso algum deles seja capturado.

Para dificultar ainda mais o serviço policial os seqüestradores não têm mantido um cativeiro fixo como uma residência, podendo o mesmo ocorrer dentro de um matagal pouco freqüentado onde a vítima fica acorrentada em uma árvore. De vez em quando é alimentada passando por todos os dissabores de um local sem as mínimas condições de sobrevivência, como mosquitos, chuva, sol, bichos de todas as espécies e passando fome. Outra opção utilizada é dentro de um veículo, podendo ser um caminhão baú, Van, Kombi, etc. Mesmo dentro de uma residência é possível de serem adotados diversos procedimentos como um quarto trancado escuro podendo a vítima ficar acorrentada, ser feito um buraco dentro do quarto e a vítima ali ficar “enterrada” com um improvisado serviço de ar. Nestes locais, normalmente a vítima não tem as mínimas condições de higiene, não tomando banho, fazendo as suas necessidades fisiológicas dentro de uma lata e de vez em quando esta é retirada, limpa e retorna ao mesmo local. Portanto o local do cativeiro pode ser modificado de acordo com as necessidades da quadrilha e do local onde ele se encontra.

O seqüestro normalmente é praticado por marginais que tem algum poder financeiro já que fica caro a sua manutenção por um período de tempo maior e as vezes as previsões deles falham, pois pensando em receber o resgate em uma semana, as negociações se prolongam por muito mais tempo o que pode desarticular a quadrilha e ela querer receber qualquer quantia que for oferecida. Além do mais a manutenção do cativeiro é um problema enorme pois o local pode ser descoberto, vizinhos podem denunciar, vítima pode fugir devido ao cansaço dos “soldados”, já tendo havido um caso em Brasília que o filho do dono da VASP da família Canhedo, ao perceber o seu vigia estava usando cocaína e perdido a noção de tudo, conseguiu fugir do local, avisar a polícia que prendeu os seqüestradores. Portanto, a manutenção do cativeiro é um enorme risco para os seqüestradores e eles querem resolver o caso rapidamente muitas vezes, por causa disto. Daí a importância da negociação e do negociador que deve endurecer dentro do possível pois pode haver um pagamento bem abaixo que eles pedem inicialmente.

Tão logo seja encontrado o cativeiro, com a prisão ou não dos seqüestradores ele deve passar por uma perícia imediatamente antes de ser liberado pois no local podem ser encontrados indícios suficientes para o indiciamento dos autores do crime. A perícia será também importante para confrontação das declarações da vítima que ficou durante algum tempo num determinado local e sabe dizer com precisão detalhes como cor da parede, posição do acendedor, posição da lâmpada quando houver, ou seja, ela irá fazer uma descrição detalhada no seu cativeiro que será corroborada pela perícia.

Devido a importância da perícia, os policiais que ficam entusiasmados com a descoberta do cativeiro, libertação da vítima, prisão dos seqüestradores, felicidade pela final feliz para todos, acabam deixando para um segundo plano a vistoria pericial o que pode acabar comprometendo o inquérito policial e inclusive o indiciamento de quem não foi detido no local. Na maioria das vezes, principalmente se houver a compartimentação, o refém ou mesmo o “soldado” não terão condições de apontar os outros autores do crime. Neste caso, os demais integrantes da quadrilha ao irem ao cativeiro normalmente estarão utilizando uma balaclava o que impossibilita evidentemente a sua identificação posteriormente.

Portanto é de fundamental importância o trabalho da perícia para além de fotografar recolher outros indícios, como digitais, roupas, documentos, papeis etc. que podem levar a identificação de outros integrantes do bando.

Elson Matos da Costa
Delegado Geral de Polícia

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