quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Molas de Armas


"MASTER TIPS"

Dicas das "raposas velhas" do Tiro.Autor: Helio Barreiros JúniorColaboração e Imagens: Alexandre Noronha

Molas, pra que te quero?

Moderna ou antiga, não há arma de fogo que funcione sem a ação de pelo menos uma, mas normalmente várias molas. Mola é um dispositivo mecânico advindo da capacidade de se arranjar objetos, metálicos ou não, que sejam elásticos, que tenham “memória”, ou seja, se deformados por tração ou compressão, uma vez que cesse a força de deformação eles voltam à sua forma original.
Seu uso em armas de fogo, geralmente aproveita essa capacidade para repetir um movimento ou devolver uma peça à sua posição original, em ciclos que se iniciam, normalmente, pelo acionamento manual inicial do mecanismo que irá comprimir ou estender uma mola. O problema reside no fato que, no caso de armas de fogo, molas são feitas em aços especiais e com um tratamento térmico que lhes confere as características de uma mola, sendo peças susceptíveis de dois tipos de problemas.
O primeiro é a falha de material ou processo que faz com que a mola já “nasça com defeito, normalmente partindo-se logo no início de sua utilização.
O segundo é a perda da capacidade de movimento elástico, ou seja, a mola “se cansa” e não mais realiza o movimento na intensidade ou velocidade desejados. O usuário de armas de fogo tem que estar atento ao estado das molas de sua arma, pois são peças críticas para o correto funcionamento e devem ser substituídas ao menor sinal de fadiga e, vale dizer, se sua vida depende de uma arma de fogo, não há que se pensar em tentar recuperar uma mola defeituosa. Molas defeituosas não se reparam, devem sim ser simplesmente substituídas.Armas de fogo, valem-se de molas espirais e do tipo lâmina, sendo que esta última pode ser simples ou composta em “v” ou até mesmo em “w”. Pela facilidade de produção e maior uniformidade a grande maioria das armas modernas utiliza-se quase que exclusivamente molas espirais. Vejamos, grosso modo, o que mais se encontra nas armas curtas utilizadas no Brasil.

Revólveres
Num revólver há três tipos de movimento cruciais ao funcionamento da arma e que envolvem a ação de molas:- A impulsão do cão ou martelo, feita pela sempre denominada “Mola Real”.- O retorno do gatilho á sua posição inicial de repouso.- O retorno do retém do tambor à sua posição mais elevada, que mantém o tambor travado e uma câmara alinhada ao cano no momento do disparo.Embora existam outros movimentos na arma que envolvem a ação de molas, tais como a do extrator, do ferrolho, etc, os três acima citados são aqueles do ciclo dinâmico que fazem com que a arma dispare corretamente. Em revólveres Taurus de fabricação recente, Rossi, Ruger e uns poucos modelos Colt também mais recentes, todas as molas são do tipo espiral. Na grande maioria dos revólveres Smith& Wesson, a mola real é do tipo lâmina simples e as demais são espirais. Nos Colts a grande maioria dos modelos adota uma mola em “v” que faz tanto as vezes de mola real quanto de retorno do gatilho.O que vale aqui dizer é que em armas modernas, principalmente essas que usam apenas molas espirais, é muito difícil que ocorra a fadiga de uma mola, posto que elas só são postas “em carga” no momento do acionamento do mecanismo. O que mais ocorre, no entanto, são modificações efetuadas por pessoas não qualificadas que buscam “amaciar” o funcionamento de um revólver, encurtando ou substituindo suas molas. Isso é de um primarismo impar! As características de uma mola são calculadas pelas fábricas para, com boa margem de segurança, garantir o funcionamento da arma com qualquer tipo de munição fabricada dentro dos parâmetros acordados internacionalmente. Alterar essas peças, ainda que proporcione um funcionamento mais suave da arma, pode levar a falhas de percussão, algo contornável numa Prova de Tiro Esportivo, mas que pode ser fatal numa situação de crítica como é o combate / defesa com arma de fogo. Para se suavizar o funcionamento de um revólver, podemos polir superfícies de atrito, alterar levemente ângulos de engate de marlelo/armadilha, mas nunca alterar as molas.

Pistolas semi-automáticas
Varia muito com as marcas/modelos a quantidade e o tipo de mola utilizados em pistolas semi-automáticas. Arrisco-me até a dizer que quanto menos molas tiver uma arma desse tipo, melhor será seu projeto. Dentre elas serão críticas ao funcionamento da arma:- A mola real. Como no revólver, é aquela que impulsiona o cão ou ainda, aquela que lança ou traciona o percussor. - A mola recuperadora. É aquela que traz o ferrolho de volta à sua posição original,após completada a ejeção do estojo deflagrado e que em seu curso comtempla também a alimentação de um novo cartucho.
- A mola do extrator. É aquela responsável por manter essa peça firmemente engajada ao aro ou culote do cartucho

- A mola do carregador. Fundamental no funcionamento da arma, é aquela responsável pela apresentação de um novo cartucho para alimentação, dentro do tempo de ciclo da arma.

A análise que nos leva a identificar o final da “vida” de cada uma dessas molas seria a seguinte:
- A arma falha na percussão? A munição está ok? Inspecione então o percussor, se não estiver quebrado nem gasto, a mola real deve ser substituída antes de qualquer outra análise.

- A arma apresenta um recuo muito forte ou, antes mesmo de ejetar o estojo deflagrado o ferrolho tenta alimentar um novo cartucho. A munição utilizada está dentro dos padrões do calibre? Se estiver comece a suspeitar de sua mola recuperadora. Um bom parâmetro é o seguinte:a) Se os estojos deflagrados são lançados a uma distância ao redor de 1,0m a 3,0 m do atirados, a mola recuperadora está ok e v. deve procurar outro motivo para a falha.b) Se os estojos deflagrados estiverem a mais de 3,0m do atirador a mola recuperadora está muito fraca, a pancada no final do curso do ferrolho está muito forte, lançando os estojos longe e, com certeza, desgastando excessivamente a arma.c) Se os estojos deflagrados estão sendo lançados a menos de 1,0m do atirador, a mola recuperadora instalada é muito “forte”, podendo levar a falhas de ejeção e alimentação.

- A arma, após o disparo, não extrai corretamente o estojo deflagrado, ficando o mesmo, muitas vezes solto dentro do mecanismo. Se a munição estiver ok, inspecione o ejetor e a garra do extrator. Se ambos estiverem íntegros, muito provavelmente é a mola do extrator que, estando fraca, permite que o estojo se solte da garra do extrator, mudando de posição e assim não se chocando com o ejetor, ficando no interior da arma e assim impedindo a alimentação de um novo cartucho.

- A arma falha na alimentação, tanto em seu ciclo normal quanto, algumas vezes, até quando se aciona o ferrolho manualmente. Aqui também há que se suspeitar antes de tudo de uma munição de dimensões incorretas. Se esse não for o caso a suspeita passa diretamente para a mola do carregador. Se ela estiver fraca, no ciclo da arma um novo cartucho não se apresenta “à tempo” da passagem do ferrolho e este se fecha sobre uma câmara vazia. No acionamento manual muitas vezes notamos que o cartucho, empurrado pelo ferrolho, ao invés de subir e adentrar à câmara, “mergulha” a extremidade no sentido inferior.

Existem outras, muitas em alguns casos, boa parte delas relativas aos sistemas de segurança das pistolas semi-automáticas. Todas devem ser constante objeto de atenção e cujo mal funcionamento pode ser facilmente identificado. O que relacionamos aqui, no entanto, são aquelas relativas ao ciclo de disparo, que o usuário tem dificuldade de visualizar, pois suas falhas ocorrem durante o ciclo dinâmico dessas armas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário