quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Carregadores

Carregadores são a alma do negócio

MASTER TIPS"Dicas das "raposas velhas" do Tiro.Autor: Helio Barreiros JúniorColaboração e Imagens: Luis Cesar de Oliveira Rodrigues Costa

Carregadores são a alma do negócio

Não importa que outros significados uma arma possa ter, para o profissional da área de segurança ela é, antes de tudo, uma ferramenta de trabalho. Não se admite, portanto, que um bom profissional, por melhor que seja, use equipamentos que estejam sob má condição de manutenção. Podem haver limitações de orçamento, legais ou de qualquer outra ordem, que nos levem a usar uma arma que não é a que desejaríamos, mas isso nada tem a ver com a obrigação de mantê-la em perfeitas condições de funcionamento. Não há como compensar com experiência ou habilidade a falha de uma arma defeituosa. Faço essa introdução por notar, ao longo de toda uma vida dedicada ao uso e desenvolvimento de armas leves, como nós brasileiros somos negligentes com a manutenção de nossas armas. Do que digo, agora que quase todo o segmento de segurança, seja profissional, seja privado, está caminhando para a massiva adoção de pistolas, tiro como sintoma crítico o tratamento que é dado aos carregadores das armas.

O carregador é, podemos dizer assim, a “alma” de uma arma automática ou semi-automática. Tanto que muitas vezes na indústria vemos uma arma ser totalmente projetada ao redor de um carregador pré-existente e sabidamente de bom funcionamento. Querem exemplos? A Smith& Wesson quando quis fazer sua primeira pistola semi-automática em 9mm Luger, projetou-a tomando como base o carregador da Walther P-38. Tomem nas mãos um carregador de Bereta mod. 92 e o comparem com as armas de alta capacidade da S&W, CZ, H&K, etc. Notem como as idéias de um estão presentes nos outros. Se essa é uma peça assim tão importante, em absoluto deve ser negligenciada. Vão a seguir então algumas dicas:

- Sei que no Brasil tudo que é relativo a armas é muito caro, mas lembre-se que é da sua vida que estamos tratando. Assim, se durante um treino sua arma falha freqüentemente, antes de qualquer coisa veja se as falhas não ocorrem sempre com o mesmo carregador. Se for ele o culpado, não hesite, descarte-o. Por mais caro que seja um novo, volto a dizer, é de sua vida que estamos falando. Sim, você até pode guardá-lo para usar em treinamentos, mas cuide para que não se misture com os carregadores que estão “em serviço”.

- Limpar a arma após cada seção de tiros é fundamental e, mesmo que você não atire é bom, pelo menos uma ou duas vezes por mês, desmontar, tirar a poeira, e lubrificar novamente. O ruim é que a maioria das pessoas se esquece de também desmontar e limpar o carregador. Isso certamente levará a uma falha de funcionamento que está apenas esperando um dia para acontecer. Carregadores modernos costumam serem fáceis de desmontar.
Normalmente há um pequeno “botão” protuberante na base que, uma vez levemente premido com, por exemplo, uma tampa de caneta, permite que a base do carregador mova-se como se fosse a tampa de um estojo escolar.

Faça isso com cuidado pois, não se esqueça, por trás dessa tampa está comprimida a mola do carregador. Remova então a mola e o “elevador”, que é aquela peça que você vê quando olha o carregador por cima e que é quem entra em contato com o cartucho. Observe bem a posição dessas peças para não incorrer no erro de, depois da limpeza, montar o carregador com a mola ao contrário. Na maioria das armas essa montagem incorreta é possível e você só vai descobrir depois que tentar atirar e descobrir que a arma não funciona.

As pistolas de projeto mais antigo como, por exemplo, a Colt Mod 1911 e seus clones exigem um pouco mais de habilidade para desmontar o carregador. Sugiro que nessas armas você usando uma haste de madeira ou plástico (pode ser o cabo de uma escova de dente, uma caneta ou lápis), comprima o elevador do carregador mais ou menos até a metade de seu curso. Coloque então um pino qualquer, pode ser até um palito de fósforo ou um clips de papel, através dos orifícios do corpo do carregador, um pouco abaixo de onde você posicionou o elevador. Dessa forma a mola estará presa e, se você fez direito o elevador estará solto e, se invertermos o carregador ele cairá livremente. Aí então, com muito cuidado, com a haste (aquela do pauzinho) mantenha a mola no local, remova o palito que usou para travá-la e então, lenta e cuidadosamente deixa que a mola se distenda. Remova-a então e, “voilá”, temos um carregador desmontado!

Com o carregador desmontado use uma escova redonda e macia. Pode ser uma dessas de limpar mamadeira ou então uma para canos de espingarda calibre 12. Com ela retire toda a poeira e terra que estão lá dentro.

Sim, agora você percebeu que cada vez que o carregador caiu no chão durante seus treinos ele se encheu de areia e você nem notou. É por isso que ele um dia trava espertalhão! Feito isso com um pano embebido em solvente limpe a mola e depois com uma escovinha e solvente limpe o elevador.

IMPORTANTÍSSIMO agora é secar tudo muito bem e remontar o carregador corretamente. Não meu amigo, não encha o carregador de óleo com um daqueles malditos sprays! Você até pode passar óleo mas depois seque bem. A presença de óleo na forma líquidadentro de um carregador trazdentro de um carregador traz dois prejuízos graves. O primeiro é reter poeira, fazendo com que a parte de dentro de seu carregador pareça um bife “à milanesa”, ou melhor, uma pasta de esmeril. O segundo é que o óleo vai entrar em contato com a espoleta “matando” sua munição mais rápido do que se ela fosse imersa na água por uma semana.

- Por fim saiba que carregadores são projetados para funcionarem “pendurados” na arma, mantidos apenas pela ação do retém do carregador. Se você insistir em colocar a mão por baixo do carregador e, pior ainda, nessa posição descarregar o peso da arma sobre a base do carregador, certamente problemas ocorrerão. Quando se faz isso, a tolerância dimensional prevista para que a arma funcione com carregadores de várias idades e procedências, será toda preenchida quando todos os carregadores são mantidos em seu ponto mais alto. Assim aqueles que forem alguns décimos de milímetro mais longos vão esbarrar no ferrolho quando de seu curso, na maioria das vezes fazendo a arma falhar. Sei que há muita corporação que ensina que as armas, principalmente fuzis, devam ser disparadas com o carregador apoiado na “mão fraca”. Isso é uma “necessidade” que advém do fato de que a arma está com o retém do carregador gasto e, se não se segurar com a mão, o carregador acaba caindo. Aí, para piorar um pouco, o instrutor mal preparado acaba ensinando um jeito de deixar a arma ainda um pouco pior. Um verdadeiro absurdo!
Bons tiros a todos!

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