sexta-feira, 4 de maio de 2012


“SAIDINHA DE BANCO”.


Texto extraído do livro VIOLÊNCIA URBANA: COMO SE PROTEGER, do autor Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia que foi Chefe do DEOEsp – Departamento Estadual de Operações Especiais e da DAS – Divisão Antissequestro de MG, livro ainda em fase de edição.
                       
                        Os marginais se revezam nas suas atividades criminosas e sempre procuram algo que está na mídia. Se for anunciado pela TV, rádio, jornal ou revista sobre uma modalidade de crime que deu certo e os infratores obtiverem sucesso naquela empreitada, possivelmente outros crimes semelhantes irão ocorrer. Assim quando acontece um assalto a banco, com sequestro do Gerente, provavelmente outros acontecerão. Se um ônibus é queimado na cidade e causou uma grande repercussão por qualquer que tenha sido o motivo, outros dentro de pouco tempo também o serão destruídos. É uma forma de marcar presença dentro de sua gangue.

                        Uma modalidade criminosa que sempre está presente em nossos noticiários e muito utilizada ultimamente é a chamada “Saidinha de Banco”. Consiste no acompanhamento de quem está dentro de um estabelecimento bancário e retira uma quantia considerável de dinheiro. Normalmente ocorre em dias de pagamento de aposentados ou pagamentos de empresas. Um dos assaltantes é designado para entrar no banco e ficar ali de “bobeira”, fingindo preencher alguma ficha ou mesmo na fila do caixa. Com isto consegue visualizar quem está retirando uma quantia maior que posteriormente será assaltada.

                        Esta futura vítima ao retirar um volume maior em dinheiro na “boca do caixa” será seguida, normalmente uma moto com dois ocupantes ou mesmo um carro e na primeira oportunidade ela será abordada e não terá como reagir. Como a pessoa é apanhada de surpresa, mesmo que esteja armada, sendo ou não policial, muita pouca coisa há a se fazer a não ser entregar, com os olhos marejados pela perda, da bolsa contendo os suados trocados. Caso queira esboçar qualquer tipo de reação o mais provável é que venha a ser morto. Naquele instante o agressor estará extremamente nervoso, com medo de ser preso ou atacado pela vítima a qual pode ser maior fisicamente do que ele, ou mesmo que não o seja, a sua única saída é disparar contra o seu opositor diante da insegurança naquele instante do que poderá vir a acontecer.

                        É um momento que ninguém gostaria de passar, ter uma arma apontada para a cabeça, as mãos do infrator tremendo e qualquer ato por parte da vítima que seja um pouco mais brusco, poderá ser entendido como uma reação e a arma ser disparada. Portanto, em hipótese nenhuma reaja contra uma arma de fogo já que nunca terá a menor chance de sobreviver neste caso e faça movimentos lentos e principalmente avisados. Ou seja, diga que irá abaixar para pegar a bolsa onde está o dinheiro no chão do carro. Autorizado faça os movimentos quase que em câmera lenta e assim não assustá-lo. No entanto, não demore muito em atender ao pedido do infrator. Ele está muito mais ansioso para sair fora daquele local o mais rápido possível e com a presa que foi atrás. O seu suado dinheiro.

Este não é o momento apropriado para nenhum tipo de reação, muito menos brigar segurando a bolsa com o dinheiro enquanto do outro lado o ladrão a puxa. Isto o irritará profundamente e para receber um disparo é coisa de décimos de segundos. Não é a hora certa para esboçar qualquer tipo de reação. É preferível deixar os marginais irem embora, acionar a polícia imediatamente e desta forma haverá a possibilidade da captura dos assaltantes e a recuperação da quantia surripiada de suas mãos e você ficando vivo. Caso não seja possível a prisão dos seus atacantes, pelo menos estará em condições para trabalhar novamente e recuperar a quantia perdida. Ou seja, permaneça com a sua integridade física hígida.

                        Por isso a necessidade de ficar sempre alerta. O motorista que estiver com uma grande quantia em dinheiro deverá de preferência estar acompanhado de uma ou mais pessoas e estas deverão ficar observando se alguém os estará seguindo durante todo o trajeto. Isto com certeza não será garantia de nada, mas que apenas poderão antever a situação e assim tentar alguma evasão antes da abordagem. Preocupe-se com motos onde estejam o piloto e mais um na “garupa” já que será este o responsável em fazer a abordagem. Se o seu acompanhante estiver observando poderá verificar que momentos antes da abordagem o “garupa” ficará bastante agitado, olhando para os lados e levantando a blusa para sacar a arma. Se eles se aproximaram o bastante e o motorista estiver engavetado no trânsito, ou seja, entre dois veículos e sem poder se movimentar para nenhum dos lados, será uma presa fácil. Para eles é o momento ideal da abordagem já que o motorista ficará sem nenhuma ação e estará durante alguns instantes com o seu veículo imobilizado. É uma presa fácil.

                        Lembre-se que as paradas nos semáforos são os momentos propícios para o ataque. Redobre a vigilância. Pare o seu veículo de forma que não fique preso entre os veículos que estão a sua frente e de lado. Se perceber que será atacado arranque o carro e saia do local o mais rápido possível mesmo que para isso venha a causar danos materiais. Procure ajuda em uma Delegacia de Polícia, Posto da PM, viatura policial. No entanto se for abordado com uma arma de fogo, não reaja, a sua vida está correndo um enorme risco. Não existe outra solução, entregue o que estão pedindo.

                        Se o dinheiro foi colocado dentro de uma pasta ainda dentro do banco, ao entrar no carro transfira-o para outro local e ao ser abordado a pasta será entregue ao marginal. É um meio que pode ser utilizado. No momento do assalto o bandido quer sair o mais rápido que puder e possivelmente não irá abrir a pasta para conferir e esta sua ação poderá ser percebida somente muito tempo depois por ele quando você já estará a salvo com o dinheiro.

                        Quando houver necessidade de retirar uma quantia em dinheiro maior no Banco, converse com o Gerente e pegue o numerário em uma sala isolada onde não poderá ser visto por ninguém dificultando a ação dos marginais. Repito, somente em último caso pague em dinheiro vivo ao seu fornecedor, empregado, etc. É muito mais fácil transferir uma quantia pela internet do que ir a um banco, achar um local para estacionar, pagar o “flanelinha”, enfrentar uma fila, receber o dinheiro e sair com aquela quantia toda para fora da segurança existente dentro do estabelecimento bancário até entrar em seu veículo novamente. Ainda irá percorrer uma longa distância até chegar a um local seguro onde a quantia será entregue a alguém de direito. Olha o risco que está correndo. Está pedindo para ser abordado. A instituição bancária tem suas responsabilidades apenas enquanto estiver nas dependências da agência, mas, nada pode fazer após você transpor as portas e se encontrar sozinho nas ruas. As forças de segurança pública muito pouco podem fazer para proteger cada um de nós isoladamente. Precisamos fazer a nossa parte e cuidarmos de nossa segurança pessoal.

                        Se for possível, opte por pagar empregados através de contas bancarias evitando carregar muito dinheiro no dia de pagamento dos mesmos. Empregados desonestos que saíram da empresa sabem da rotina do pagamento e podem eles próprios praticar o assalto ou informar a outros comparsas como ocorre a retirada e a entrega do dinheiro para o pagamento mensal dos funcionários e assim propiciar a ocorrência do crime. Não dê facilidades ao marginal, procure dificultar a sua ação e a retirada de uma grande quantia na “boca do caixa” é um chamariz para se tornar uma vítima de assalto e nestas situações não se pode prever o que poderá ocorrer. A sua vida está correndo sério perigo. Evite andar com grandes quantias no bolso já que assim você estará chamando o risco para perto de você.

                        Hoje o dinheiro de plástico (cartão de crédito e/ou de débito) é amplamente utilizado e aceito praticamente em todo lugar. É muito menos perigoso para a sua segurança pessoal. Procure cadastrar todas as suas contas no “débito automático” e dentro do possível somente utilize a agência bancária em último caso, já que neste local você estará sendo observado por pessoas “acima de quaisquer suspeitas”. Nem sempre é possível, para o cidadão comum e nem mesmo para o policial, perceber que tem alguém o observando para um futuro assalto. Marginal não gosta de nada que o dificulte em sua ação criminosa, prefere facilidades, portanto não lhe dê esta oportunidade.

                        Diante de tantos casos ocorridos, em alguns com a morte daquele que possivelmente reage, ou pelo menos o ladrão pensou que sim, é preferível que deixemos esta forma arcaica de realizar pagamentos em dinheiro vivo. Prefira a transferência bancária que pode ser efetuada com a maior tranqüilidade dentro de sua casa ou empresa utilizando a internet. Assim não damos chance para quem nos quer perseguir caso tenhamos conosco um montante atrativo. A nossa vida vale muito mais do que míseros trocados, mas para isto precisamos nos preocupar com nossa segurança não dando oportunidade ao azar.

                        Há um movimento legislativo no sentido de se obrigar aos bancos a montar um biombo ou bloqueadores visuais entre os caixas e a fila de clientes o que já vem ocorrendo em algumas cidades. A obrigatoriedade da instalação destes equipamentos nas cabines destinadas ao atendimento dos clientes poderia garantir uma maior privacidade quando do recebimento de um numerário maior. É muito comum passarmos de carros nas ruas de uma cidade e olharmos para dentro de um banco onde existem caixas eletrônicos e as pessoas tranquilamente retirando alguma quantia em dinheiro vivo. Facilmente observadas são presas fáceis, principalmente quando isto ocorre em horários mais tardios e locais desprovidos de segurança.

                        No entanto onde já existe a legislação municipal em vigor os bancos se recusam a implantar referidos equipamentos que poderiam em tese dificultar as observações dos “olheiros” dos infratores. Alegam que somente uma Lei Federal teria o condão de obrigar a instalação dos biombos o que, no entanto é contestado pelos legisladores onde o Código do Consumidor obrigaria ao atendimento desta lei municipal/estadual e assim se evitaria que pessoas desonestas percebessem quem estaria retirando uma quantia grande em dinheiro.

                        Também está tentando se proibir o uso do telefone celular dentro do banco, pois com este equipamento o comparsa não teria como avisar ao colega do lado de fora da agência bancaria quem estaria saindo com um grande numerário. Não considero que será muito válida já que a sua efetividade será praticamente nula para se evitar o assalto. Quem vigia dentro do banco sairá logo atrás de quem retirou o dinheiro e ela será seguida até se encontrar um local propício para o ataque. Não é preciso ligar para ninguém, somente acompanhar a pessoa e persegui-la até um local mais apropriado para a abordagem. A não ser que tenhamos um funcionário do banco para repassar as informações tão logo efetue o pagamento vultoso, com que convenhamos é difícil de ocorrer apesar de já termos fatos concretos ocorridos desta forma. Mas isto é um caso mais raro.

                        Portanto tome os cuidados necessários quando precisar retirar uma quantia acima do normal que chame a atenção de pessoas desonestas, pois você poderá ser o próximo alvo. Apesar dos inúmeros casos ocorridos ainda vemos pessoas dando chance para o azar e arriscando a própria vida carregando enormes somas e com isto atraindo para si todos os problemas que podem vir a ocorrer num assalto. Evite se tornar mais um número das estatísticas da violência urbana.

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