“SAIDINHA DE BANCO”.
Texto
extraído do livro VIOLÊNCIA URBANA: COMO
SE PROTEGER, do autor Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia que
foi Chefe do DEOEsp – Departamento Estadual de Operações Especiais e da DAS –
Divisão Antissequestro de MG, livro ainda em fase de edição.
Os
marginais se revezam nas suas atividades criminosas e sempre procuram algo que
está na mídia. Se for anunciado pela TV, rádio, jornal ou revista sobre uma
modalidade de crime que deu certo e os infratores obtiverem sucesso naquela
empreitada, possivelmente outros crimes semelhantes irão ocorrer. Assim quando
acontece um assalto a banco, com sequestro do Gerente, provavelmente outros
acontecerão. Se um ônibus é queimado na cidade e causou uma grande repercussão
por qualquer que tenha sido o motivo, outros dentro de pouco tempo também o
serão destruídos. É uma forma de marcar presença dentro de sua gangue.
Uma
modalidade criminosa que sempre está presente em nossos noticiários e muito
utilizada ultimamente é a chamada “Saidinha de Banco”. Consiste no
acompanhamento de quem está dentro de um estabelecimento bancário e retira uma
quantia considerável de dinheiro. Normalmente ocorre em dias de pagamento de
aposentados ou pagamentos de empresas. Um dos assaltantes é designado para
entrar no banco e ficar ali de “bobeira”, fingindo preencher alguma ficha ou
mesmo na fila do caixa. Com isto consegue visualizar quem está retirando uma
quantia maior que posteriormente será assaltada.
Esta
futura vítima ao retirar um volume maior em dinheiro na “boca do caixa” será
seguida, normalmente uma moto com dois ocupantes ou mesmo um carro e na
primeira oportunidade ela será abordada e não terá como reagir. Como a pessoa é
apanhada de surpresa, mesmo que esteja armada, sendo ou não policial, muita
pouca coisa há a se fazer a não ser entregar, com os olhos marejados pela
perda, da bolsa contendo os suados trocados. Caso queira esboçar qualquer tipo
de reação o mais provável é que venha a ser morto. Naquele instante o agressor
estará extremamente nervoso, com medo de ser preso ou atacado pela vítima a
qual pode ser maior fisicamente do que ele, ou mesmo que não o seja, a sua
única saída é disparar contra o seu opositor diante da insegurança naquele
instante do que poderá vir a acontecer.
É
um momento que ninguém gostaria de passar, ter uma arma apontada para a cabeça,
as mãos do infrator tremendo e qualquer ato por parte da vítima que seja um
pouco mais brusco, poderá ser entendido como uma reação e a arma ser disparada.
Portanto, em hipótese nenhuma reaja contra uma arma de fogo já que nunca terá a
menor chance de sobreviver neste caso e faça movimentos lentos e principalmente
avisados. Ou seja, diga que irá abaixar para pegar a bolsa onde está o dinheiro
no chão do carro. Autorizado faça os movimentos quase que em câmera lenta e
assim não assustá-lo. No entanto, não demore muito em atender ao pedido do
infrator. Ele está muito mais ansioso para sair fora daquele local o mais
rápido possível e com a presa que foi atrás. O seu suado dinheiro.
Este não é o momento
apropriado para nenhum tipo de reação, muito menos brigar segurando a bolsa com
o dinheiro enquanto do outro lado o ladrão a puxa. Isto o irritará
profundamente e para receber um disparo é coisa de décimos de segundos. Não é a
hora certa para esboçar qualquer tipo de reação. É preferível deixar os
marginais irem embora, acionar a polícia imediatamente e desta forma haverá a
possibilidade da captura dos assaltantes e a recuperação da quantia surripiada
de suas mãos e você ficando vivo. Caso não seja possível a prisão dos seus
atacantes, pelo menos estará em condições para trabalhar novamente e recuperar
a quantia perdida. Ou seja, permaneça com a sua integridade física hígida.
Por
isso a necessidade de ficar sempre alerta. O motorista que estiver com uma
grande quantia em dinheiro deverá de preferência estar acompanhado de uma ou
mais pessoas e estas deverão ficar observando se alguém os estará seguindo
durante todo o trajeto. Isto com certeza não será garantia de nada, mas que
apenas poderão antever a situação e assim tentar alguma evasão antes da
abordagem. Preocupe-se com motos onde estejam o piloto e mais um na “garupa” já
que será este o responsável em fazer a abordagem. Se o seu acompanhante estiver
observando poderá verificar que momentos antes da abordagem o “garupa” ficará
bastante agitado, olhando para os lados e levantando a blusa para sacar a arma.
Se eles se aproximaram o bastante e o motorista estiver engavetado no trânsito,
ou seja, entre dois veículos e sem poder se movimentar para nenhum dos lados,
será uma presa fácil. Para eles é o momento ideal da abordagem já que o
motorista ficará sem nenhuma ação e estará durante alguns instantes com o seu
veículo imobilizado. É uma presa fácil.
Lembre-se
que as paradas nos semáforos são os momentos propícios para o ataque. Redobre a
vigilância. Pare o seu veículo de forma que não fique preso entre os veículos
que estão a sua frente e de lado. Se perceber que será atacado arranque o carro
e saia do local o mais rápido possível mesmo que para isso venha a causar danos
materiais. Procure ajuda em uma Delegacia de Polícia, Posto da PM, viatura
policial. No entanto se for abordado com uma arma de fogo, não reaja, a sua
vida está correndo um enorme risco. Não existe outra solução, entregue o que
estão pedindo.
Se
o dinheiro foi colocado dentro de uma pasta ainda dentro do banco, ao entrar no
carro transfira-o para outro local e ao ser abordado a pasta será entregue ao
marginal. É um meio que pode ser utilizado. No momento do assalto o bandido
quer sair o mais rápido que puder e possivelmente não irá abrir a pasta para
conferir e esta sua ação poderá ser percebida somente muito tempo depois por
ele quando você já estará a salvo com o dinheiro.
Quando
houver necessidade de retirar uma quantia em dinheiro maior no Banco, converse
com o Gerente e pegue o numerário em uma sala isolada onde não poderá ser visto
por ninguém dificultando a ação dos marginais. Repito, somente em último caso
pague em dinheiro vivo ao seu fornecedor, empregado, etc. É muito mais fácil
transferir uma quantia pela internet do que ir a um banco, achar um local para
estacionar, pagar o “flanelinha”, enfrentar uma fila, receber o dinheiro e sair
com aquela quantia toda para fora da segurança existente dentro do estabelecimento
bancário até entrar em seu veículo novamente. Ainda irá percorrer uma longa
distância até chegar a um local seguro onde a quantia será entregue a alguém de
direito. Olha o risco que está correndo. Está pedindo para ser abordado. A
instituição bancária tem suas responsabilidades apenas enquanto estiver nas
dependências da agência, mas, nada pode fazer após você transpor as portas e se
encontrar sozinho nas ruas. As forças de segurança pública muito pouco podem
fazer para proteger cada um de nós isoladamente. Precisamos fazer a nossa parte
e cuidarmos de nossa segurança pessoal.
Se
for possível, opte por pagar empregados através de contas bancarias evitando
carregar muito dinheiro no dia de pagamento dos mesmos. Empregados desonestos
que saíram da empresa sabem da rotina do pagamento e podem eles próprios
praticar o assalto ou informar a outros comparsas como ocorre a retirada e a
entrega do dinheiro para o pagamento mensal dos funcionários e assim propiciar
a ocorrência do crime. Não dê facilidades ao marginal, procure dificultar a sua
ação e a retirada de uma grande quantia na “boca do caixa” é um chamariz para
se tornar uma vítima de assalto e nestas situações não se pode prever o que
poderá ocorrer. A sua vida está correndo sério perigo. Evite andar com grandes
quantias no bolso já que assim você estará chamando o risco para perto de você.
Hoje
o dinheiro de plástico (cartão de crédito e/ou de débito) é amplamente
utilizado e aceito praticamente em todo lugar. É muito menos perigoso para a sua
segurança pessoal. Procure cadastrar todas as suas contas no “débito
automático” e dentro do possível somente utilize a agência bancária em último
caso, já que neste local você estará sendo observado por pessoas “acima de
quaisquer suspeitas”. Nem sempre é possível, para o cidadão comum e nem mesmo
para o policial, perceber que tem alguém o observando para um futuro assalto.
Marginal não gosta de nada que o dificulte em sua ação criminosa, prefere
facilidades, portanto não lhe dê esta oportunidade.
Diante
de tantos casos ocorridos, em alguns com a morte daquele que possivelmente
reage, ou pelo menos o ladrão pensou que sim, é preferível que deixemos esta
forma arcaica de realizar pagamentos em dinheiro vivo. Prefira a transferência
bancária que pode ser efetuada com a maior tranqüilidade dentro de sua casa ou
empresa utilizando a internet. Assim não damos chance para quem nos quer
perseguir caso tenhamos conosco um montante atrativo. A nossa vida vale muito
mais do que míseros trocados, mas para isto precisamos nos preocupar com nossa
segurança não dando oportunidade ao azar.
Há
um movimento legislativo no sentido de se obrigar aos bancos a montar um biombo
ou bloqueadores visuais entre os caixas e a fila de clientes o que já vem ocorrendo
em algumas cidades. A obrigatoriedade da instalação destes equipamentos nas
cabines destinadas ao atendimento dos clientes poderia garantir uma maior
privacidade quando do recebimento de um numerário maior. É muito comum
passarmos de carros nas ruas de uma cidade e olharmos para dentro de um banco
onde existem caixas eletrônicos e as pessoas tranquilamente retirando alguma
quantia em dinheiro vivo. Facilmente observadas são presas fáceis,
principalmente quando isto ocorre em horários mais tardios e locais desprovidos
de segurança.
No
entanto onde já existe a legislação municipal em vigor os bancos se recusam a
implantar referidos equipamentos que poderiam em tese dificultar as observações
dos “olheiros” dos infratores. Alegam que somente uma Lei Federal teria o condão
de obrigar a instalação dos biombos o que, no entanto é contestado pelos legisladores
onde o Código do Consumidor obrigaria ao atendimento desta lei municipal/estadual
e assim se evitaria que pessoas desonestas percebessem quem estaria retirando
uma quantia grande em dinheiro.
Também
está tentando se proibir o uso do telefone celular dentro do banco, pois com
este equipamento o comparsa não teria como avisar ao colega do lado de fora da
agência bancaria quem estaria saindo com um grande numerário. Não considero que
será muito válida já que a sua efetividade será praticamente nula para se
evitar o assalto. Quem vigia dentro do banco sairá logo atrás de quem retirou o
dinheiro e ela será seguida até se encontrar um local propício para o ataque.
Não é preciso ligar para ninguém, somente acompanhar a pessoa e persegui-la até
um local mais apropriado para a abordagem. A não ser que tenhamos um
funcionário do banco para repassar as informações tão logo efetue o pagamento
vultoso, com que convenhamos é difícil de ocorrer apesar de já termos fatos
concretos ocorridos desta forma. Mas isto é um caso mais raro.
Portanto
tome os cuidados necessários quando precisar retirar uma quantia acima do
normal que chame a atenção de pessoas desonestas, pois você poderá ser o
próximo alvo. Apesar dos inúmeros casos ocorridos ainda vemos pessoas dando
chance para o azar e arriscando a própria vida carregando enormes somas e com
isto atraindo para si todos os problemas que podem vir a ocorrer num assalto.
Evite se tornar mais um número das estatísticas da violência urbana.
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