CONFRONTO ARMADO:
POLICIAIS CIVIS X SARGENTO DO GATE
Texto
de Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia, Coordenador/Professor de
TAP – Técnicas de Ação Policial da ACADEPOL/MG.
Na madrugada de 14 de
janeiro do corrente em Esmeraldas ao término de um baile funk houve uma briga na rua. Os seguranças do estabelecimento por “conhecerem”
alguns policiais civis que estavam no baile acionaram estes agentes da lei para
intervirem na situação. Quando estavam se dirigindo para o local foram avisados
que uma pessoa estava armada. Teriam então se identificados como policiais
civis e já com suas armas em condições de pronto uso. A pessoa abordada
independente do que ouvia dos policiais civis sacou sua arma e neste momento
então houve um confronto armado saindo um dos policiais civis baleado na perna
e outra pessoa que se encontrava próxima. O homem armado, que posteriormente
foi identificado como policial militar, Sargento do GATE foi baleado e faleceu.
Os policiais civis se apresentaram na unidade policial mais próxima para a
consecução dos procedimentos legais.
O que gostaria de
comentar neste texto seria apenas o que acontece em um confronto armado sem
tecer maiores comentários ao fato acima narrado já que não disponho de maiores
dados o que somente o Inquérito Policial irá dirimir e o acima descrito foi o
que fiquei sabendo através da mídia.
O confronto armado não
avisa quando irá acontecer e assim o policial deverá estar em condições de
revidar a uma agressão injusta e neste momento não pode perder tempo. A sua
arma de fogo deverá estar em condições de ser sacada da cintura e utilizada sem
maiores movimentos. Como hoje praticamente todos os policiais possuem uma arma
semi-automática esta deverá estar com uma munição na câmara de explosão e assim
bastará apenas apertar o gatilho para fazer o disparo. Caso a munição esteja
somente no carregador o policial ao sacar a sua arma deverá movimentar o
ferrolho e somente depois estará apto a efetuar o disparo. Com a adrenalina do
momento de um confronto armado caso o policial não tenha um excelente
treinamento esta segunda opção fará com que seja baleado antes que consiga
colocar a arma em condições de uso. Não tendo treinamento irá sacar sua arma,
pressionar o gatilho e nada acontecerá e o policial não saberá neste momento o
que está acontecendo. Isto ocorre em questões de frações de segundos, portanto
quanto menos movimentos tivermos que fazer nesta hora se ganharão preciosos
décimos de segundos e o policial continuará vivo. Para isto a recomendação de
treinamentos constantes, nem que seja a seco simulando uma situação real.
No caso de uma
aproximação planejada nem que tenha sido feita rapidamente devemos sempre nos
preocuparmos com o chamado “fogo amigo” e desta forma o cerco se fará de forma
que caso aconteça o confronto armado um policial não atinja o companheiro.
Nesta aproximação os policiais já deverão estar preparados para uma situação
mais difícil em que o oponente esteja armado e queira fazer uso deste
instrumento. Se possível ao se dar voz de prisão deverá estar abrigado e evitar
assim ser atingido no caso de uma reação. O ideal é se aproximar o mais rápido
possível e tentar dominar o infrator antes que ele consiga colocar a mão na
arma, mas para isto precisa dominar as técnicas de defesa pessoal para que não
aconteça uma briga de rua onde a arma do policial poderá ser retirada e usada
contra ele mesmo. Em prisão planejada o policial obrigatoriamente deverá estará
trajando o seu colete balístico.
Quando vamos prender
alguém que está cometendo um crime ou mesmo fazer uma abordagem pessoal devemos
tomar cuidado com o local para que caso exista uma reação pessoas inocentes não
sejam atingidas. Acontecendo uma troca de tiros entre policiais e bandidos,
estes não se importam quem será atingido já que será apenas mais um crime que
irá responder. O policial tem de ter a preocupação primordial de preservar a
integridade física de pessoas inocentes senão responderá pelos excessos
cometidos. A sua arma após o tiroteio será recolhida, já que se trata de uma
arma legal, periciada e facilmente se chegará ao autor do tiro irresponsável.
Outra sugestão muito
importante diz respeito a verbalização que é quando declinamos a nossa condição
de policial e determinamos o que desejamos que se faça a pessoa abordada. Por
exemplo: “POLÍCIA! COLOQUE AS MÂOS NA CABEÇA! ENCOSTA NA PAREDE! Com voz firme
e poucas palavras exprimimos o que a pessoa deve fazer e assim não sermos
confundidos com um marginal que está praticando um assalto. Quem estiver
passando perto logo tomará ciência de que se trata de policiais fazendo o seu
serviço e não tentará intervir caso seja um policial de outra unidade e não
tenha conhecimento da atividade dos colegas.
Tomadas as devidas
precauções acima e mesmo assim ocorrer uma reação armada os policiais deverão
fazer uso da arma de fogo incontinenti até cessar a agressão. Abstendo de
efetuar mais disparos que o necessário ao perceber que o oponente não
representa mais nenhum perigo.
Cessado o confronto,
caso o agressor esteja com vida procurar de todas as formas socorrê-lo em seu
próprio veículo ou utilizando serviço do SAMU ou Corpo de Bombeiros tentando
diminuir as consequências naturais de um confronto armado. No mesmo ato
procurar por pessoas que presenciaram o ato para arrolar como testemunhas e
corroborar a atitude da equipe. Acionar a perícia. Telefonar ou se apresentar à
Autoridade Policial mais próxima aonde neste caso irá se configurar
apresentação espontânea o que, em tese impossibilita autuação em flagrante. Irá
responder em liberdade pelos atos cometidos e estando presentes os requisitos
das excludentes de ilicitude como o de legítima defesa ao final será absolvido.
Infelizmente os fatos
narrados no primeiro parágrafo não deveriam nunca acontecer já que trabalhamos
no mesmo sentido que é a segurança pública de nossa sociedade mineira e é
extremamente lamentável que ainda aconteçam estas situações de confrontos de
duas instituições das mais respeitadas no país. Os treinamentos que recebemos
são direcionados ao confronto daqueles que vivem à margem da lei nunca contra
colegas. Infelizmente hoje quem chora é a família do Sargento em outro dia será
a de um Policial Civil e isto não pode ser tolerado por ninguém.
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