sexta-feira, 4 de maio de 2012


O MASSACRE DA ESCOLA EM REALENGO


Autor: Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia, Coordenador/Professor de TAP – Técnicas de Ação Policial na Academia de Polícia Civil de MG.


                        A manhã de 07/04/2011 ficará marcada indelevelmente na mente de todos e especialmente nos professores, funcionários e alunos sendo estes a maioria de crianças e adolescentes que participavam tranquilamente das aulas como o faziam todos os dias na pacata e tranqüila Escola Municipal Tasso da Silveira no Bairro de Realengo no Rio de Janeiro. Tudo transcorria calmamente com o burburinho natural de uma sala de aula onde se reúnem diversos jovens e uma pessoa mais experiente a frente tentando repassar da melhor forma possível os primeiros ensinamentos sobre a vida futura de todos eles. Cada um com os seus sonhos particulares. Nada poderia prenunciar o que viria ocorrer instantes após o início das aulas.

                        Do lado de fora das salas, na entrada da escola o porteiro atendeu um jovem de 23 anos, Wellington Menezes de Oliveira que já havia cursado referida instituição escolar e que usou como desculpa para retornar aquele local é de que iria dar uma palestra como é costume acontecer com outros que por ali passaram quando bem jovens. Imediatamente a passagem foi autorizada como deveria realmente ocorrer e esta pessoa que trabalhava junto ao portão em nada poderia prever o que alguns minutos após ocorreria.

                        Wellington subiu ao segundo andar e entrando em uma das salas começou a efetuar vários disparos e conforme informações iniciais teria disparado pelo menos cinquenta vezes contra crianças e adolescentes totalmente indefesos. De preferência, o algoz procurava meninas para efetuar os disparos contra a cabeça ou o tórax tornando assim fatal cada um dos tiros. Desta forma 12 pessoas foram mortas sendo 10 meninas e dois meninos sendo que estes tinham entre 10 e 12 anos de idade. Uma barbárie. Instalou-se o caos e o pânico na escola com todos tentando se safar de uma pessoa totalmente descontrolada correndo desesperados entre os corredores conforme vídeo que gravou parte desta ação maluca de uma mente doentia.

                        O autor do crime portando dois revólveres e muita munição e ao que parece tinha um conhecimento neste tipo de armamento, a medida que acabava a munição que aloja 05 (cinco) ou 06 (seis)  munições cada um dependendo da marca e calibre ia recarregando e conforme informações utilizava um “speed loader” (instrumento que possibilita a troca de munições em um revólver com maior rapidez que normalmente era utilizado pela polícia, quando ainda se usava o revólver em um confronto armado para agilizar a volta ao combate quando a munição terminava). Crianças implorando para não morrer e aterrorizadas tentavam fugir daquele inferno que se formou em um local que deveria ser de completa alegria pelas informações e conhecimentos que nos trazem e que levaremos como uma boa lembrança para o resto das nossas vidas. No entanto, não foi este cenário, neste momento que as crianças, adolescentes, funcionários e professores presenciaram, e sim algo terrível e impensável que algum dia poderia vir a ocorrer.

                        Os vídeos nos mostram crianças ensangüentadas no meio da rua, mães e pais desesperados por não conseguirem encontrar seus filhos, crianças correndo e se escondendo nas casas dos vizinhos e todos sem entenderam bem o que estava ocorrendo. A polícia foi chamada e uma viatura policial chegou ao local e um Sargento da Polícia Rodoviária, Marcio Alexandre Alves, 38 anos, entrou no local. Deparou primeiro com uma confusão de crianças correndo desesperadas e fugindo e ao encontrar Wellington e ser ameaçado por ele fez disparos contra o seu oponente que o acertaram e que ele ferido teria feito um disparo contra a cabeça suicidando-se. Este Sargento evitou que a tragédia tivesse uma dimensão muito maior. Com o “maluco” foi encontrado uma carta suicida onde pedia perdão a Deus pelos atos que iria praticar, fazia menção a questões religiosas, dava instruções de como gostaria de ser enterrado, ou seja, em um lençol branco e em uma sepultura ao lado de sua mãe.

                        A vida nunca mais será a mesma para estes jovens alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira em Realengo no Rio de janeiro. Eles deverão agora ser acompanhados por especialistas em saúde mental para que possam voltar ao convívio de seus amigos, ao convívio da sala de aula e tentar colocar adormecida no fundo de suas consciências estas imagens marcantes e aterrorizantes que viveram por alguns minutos mas que lhes serão companheiras pelo resto da vida.

                        Volta neste momento o assunto sobre desarmamento, sendo que no referendo de 2005 a população se opôs frontalmente a que se abolisse referido instrumento das pessoas de bem. A legislação que trata sobre o registro e/ou porte de arma é bem restritiva e há necessidade de se fazer diversas provas para se conseguir a autorização. O maior problema na verdade reside nas armas ilegais que nunca ou pelo menos nas próximas gerações dificilmente conseguiremos bani-las de nossos estados. O que devemos entender é que são as pessoas que matam não as armas. Ao retirarmos estes instrumentos de circulação, o que é impossível, porque elas são utilizadas em crimes hediondos como este, também deveríamos retirar os veículos que fazem um estrago todos os santos dias em nossas estradas. Se Wellington não tivesse acesso a uma arma de fogo, a barbárie poderia ter ocorrido com outro tipo de arma, como um instrumento perfuro/cortante (faca) o que nos causaria ainda mais estupor. Foi também, da mesma forma que uma arma de fogo conseguiu impedir que o massacre na Escola de Realengo fosse ainda pior. Podemos imaginar se ele demora mais cinco minutos para entrar no estabelecimento.

                        Quanto ao Wellington e estas pessoas que tem algum distúrbio mental deveriam sim ter um acompanhamento muito de perto já que o perfil dele denotava muito antes de desajuste social conforme depoimento de vizinhos que dizem que o mesmo não tinha nenhum amigo, namorada e vivia pelos cantos ou internado num quarto junto a uma internet. A polícia ao chegar a sua residência após a tragédia encontrou tudo queimado e assim evitando ou tentando evitar que alguma informação pudesse ser extraída daquele computador e assim procurar entender a sua mente e a motivação desta monstruosidade que nunca havíamos visto nesta magnitude em nosso país.

                        Os nossos sentimentos aos familiares de todos aqueles que tiveram seus filhos retirados tão abruptamente de uma vida que apenas começava. Infelizmente a vida continua e todos terão que conviver com estas perdas e tentar seguir em frente apesar de toda tristeza em seus corações. O que devemos fazer é ficarmos atentos a pequenos sinais que demonstram um desajuste social de alguém que conhecemos e assim podermos monitorá-lo e se for possível nos anteciparmos as suas ações desastradas e que trazem uma enorme tristeza para inúmeras famílias.


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