AS TÁTICAS UTILIZADAS NO SEQUESTRO EM BELO HORIZONTE
Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia,
Coordenador Professor na ACADEPOL/MG – Academia de Polícia Civil de Minas
Gerais
Na semana passada Belo Horizonte viveu momentos
de tensão na noite de segunda-feira (04/06) quando cinco marginais, quatro
homens e uma mulher, abordaram um casal de bancários no Bairro Fernão Dias.
Antes de entrarem em casa o casal foi abordado e quando chegaram a residência,
duas crianças (01 e 04 anos), além da babá, também foram feitos reféns. A
polícia foi alertada por uma vizinha que achou a movimentação suspeita e os
planos dos bandidos foram frustrados com a chegada da polícia, momentos depois
do alerta. Após apuração dos fatos, as autoridades entenderam que tratava-se de
um crime denominado na gíria policial de “Sapatinho”. Este termo é
utilizado quando a intenção dos criminosos é manter uma família refém, até o
dia seguinte, quando o funcionário do banco é obrigado a ir no seu local de
trabalho e retirar uma determinada quantia, que deve ser entregue aos
meliantes. Somente após isto, os reféns são libertados.
No caso de Belo Horizonte assim que os
policias chegaram foi traçado uma estratégia que se chama, nos estudos
policiais, de Gerenciamento de Crises, e que é definido pela Academia Nacional
do FBI como “Um evento ou
situação crucial, que exige uma resposta especial da polícia, a fim de
assegurar uma solução aceitável”. Neste
momento quando os reféns estavam correndo risco de suas vidas, montou-se um
aparato próprio e necessário para estas ocasiões. Que requer cuidado, pois,
existe a imprevisibilidade, que impossibilita a prevenção. Haverá ainda, a
ameaça de vida as pessoas inocentes e por último a obrigação das forças de
segurança em planejar a resolução do problema dentro da legalidade. Nestes
casos, uma das táticas pode ser a morte dos sequestradores, com a utilização de
um atirador de precisão e/ou do grupo de entrada. Para isso é necessário que
estejam presentes os requisitos da exclusão de antijuridicidade, como, a legítima
defesa própria ou de terceiros, o que significa colocar a vida das vítimas ou
de policiais em risco.
Assim, o que vimos na madrugada do dia 04 de junho é o resultado da negociação
entre o Estado, representado pela polícia, e os sequestradores, com fim
positivo, sem nenhum tiro disparado. Por isso, que no tratamento de uma
situação de crise, onde há marginais cercados em determinado local com reféns,
a melhor estratégia da polícia sempre se dará pela via da negociação. O
marginal sabe que perdeu no momento em que a polícia o cercou. E não é de
interessante dos criminosos que algum refém venha a morrer dentro do cativeiro,
já que se isso acontecer eles vão responder, por um crime consumado, latrocínio
(roubo seguido de morte) e não a uma tentativa, que tem uma pena mais branda.
No caso do bairro Fernão Dias, os criminosos foram indiciados por tentativa de
extorsão mediante sequestro, corrupção de menores, formação de quadrilha, porte
ilegal de arma.
O sequestro durou cerca de 14 horas de tensão,
mas foi o tempo da negociação que determinou o sucesso da ação policial, uma
vez que eles tiveram tempo de pensar nas consequências daquele crime e
voltassem a realidade, descobrindo que não valia a pena continuar no intento
criminoso, uma vez que a polícia estava no controle. Caso houvesse a morte de
qualquer refém dentro do cativeiro, a polícia seria obrigada a intervir e,
possivelmente, todos ou pelo menos alguns dos bandidos seriam mortos no
confronto.
Esse tipo de estratégia policial no Brasil começou após a Constituição Federal
de 1988, quando as polícias tiveram que se reconstruir na forma de agir e
decidiram seguir, em situações semelhantes, a doutrina utilizada inicialmente
pelo FBI nos Estados Unidos da América, que foi muito bem aceita no Brasil. É
claro que, ainda precisamos caminhar muito mais no aperfeiçoamento de nossos
policiais, já que de vez em quando, fatos lamentáveis ainda acontecem, como por
exemplo, os mais recentes ocorridos em Santo André , quando
Lindemberg matou a jovem Eloá. Ou ainda no caso do Ônibus 174, no Rio de
Janeiro, famoso por seu desfecho lamentável. No entanto precisamos ainda
afirmar sempre o papel desempenhado pelas polícias no transcorrer destes casos
que são fundamentais para que, principalmente, pessoas inocentes não sejam mais
uma vez vítimas desta violência crescente em nosso país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário