sexta-feira, 22 de junho de 2012

VIDENTE E A INVESTIGAÇÃO POLICIAL


VIDENTE E A INVESTIGAÇÃO POLICIAL

Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia.

O caso Eliza Samudio que se encontra desaparecida desde junho de 2010 volta aos noticiários quando um “vidente” diz saber onde se encontra o seu corpo. O local seria um poço no Bairro Planalto onde partes do corpo teriam sido lançadas. A palavra vidente nos remete àquele que vê ou imagina ver o que não existe, conforme Aires da Mata machado M. Filho em seu Dicionário Ilustrado Urupês.

Em todo crime que haja uma repercussão grande como foi este caso principalmente por envolver o goleiro Bruno que à época jogava no Flamengo/RJ sempre aparecem pessoas que se dizem dotadas de poderes mediúnicos e podem ajudar na investigação e a família.  Os casos de extorsão mediante sequestro então são uma constante já que envolvem pessoas de grande poder aquisitivo e pegam todos os familiares do refém em um momento bastante fragilizado. Como no princípio as informações são muito insuficientes para que a polícia possa desencadear qualquer tipo de ação os familiares acreditam em qualquer coisa e pessoa que lhe traga alguma esperança. É neste momento que entra a figura do vidente e diz saber onde fica o cativeiro.

A família se alvoroça toda e leva esta “preciosa” informação aos policiais civis que estão trabalhando no caso que pela experiência em casos passados sabe se tratar de espertalhões no sentido de também, da mesma forma que os sequestradores, querem tirar alguma vantagem daquela situação de momento. Os policiais atendendo ao pedido da família pedem então que o vidente os leve até o local do cativeiro sendo acompanhados por alguém da família. Normalmente o cativeiro é um campo, cheio de árvores, perto de um lago onde tem um barraco caindo aos pedaços. Chegando onde o vidente teria visto o cativeiro que normalmente não é localizado por ele nem existindo a paisagem por ele narrada orientamos a família sobre este tipo de pessoas que irão tentar se aproveitar da situação. Após este primeiro desencanto com o vidente e alertado pelos policiais a família recusa-se a receber outras pessoas com a mesma história.

Quando a polícia recebe qualquer tipo de informação e após um interrogatório e havendo uma pequena possibilidade de que a informação seja verdadeira as pistas são investigadas mesmo que seja somente para desencargo de consciência.

Assim no caso específico da carta recebida pelo advogado da família da vítima entregue pela mãe de Eliza Samudio o que compete à Polícia Civil através da DHPP – Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa – é realmente de tentar localizar referido poço e ali proceder a uma investigação e com o auxílio do Corpo de Bombeiros, caso seja localizada a cisterna os mesmos entrarão e ali farão uma vistoria.

O problema relacionado a este tipo de informação é a polícia saber se a informação é apenas para encobrir e diversificar as investigações dificultando o trabalho para não se chegar ao resultado final. Ou se realmente trata-se de alguém que possui algum conhecimento sobre o crime e utiliza deste subterfúgio no sentido de apontar realmente o local sem, no entanto aparecer e não ser ao final reconhecido como um “dedo duro”.

Desta forma apesar de todos os cuidados que se deve tomar com alguma informação anônima, se ela vem revestida de alguma veracidade deve ser prontamente investigada.

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