VIDENTE E A
INVESTIGAÇÃO POLICIAL
Elson Matos da Costa, Delegado Geral
de Polícia.
O
caso Eliza Samudio que se encontra desaparecida desde junho de 2010 volta aos
noticiários quando um “vidente” diz saber onde se encontra o seu corpo. O local
seria um poço no Bairro Planalto onde partes do corpo teriam sido lançadas. A
palavra vidente nos remete àquele que vê ou imagina ver o que não existe,
conforme Aires da Mata machado M. Filho em seu Dicionário
Ilustrado Urupês.
Em
todo crime que haja uma repercussão grande como foi este caso principalmente
por envolver o goleiro Bruno que à época jogava no Flamengo/RJ sempre aparecem
pessoas que se dizem dotadas de poderes mediúnicos e podem ajudar na
investigação e a família. Os casos de
extorsão mediante sequestro então são uma constante já que envolvem pessoas de
grande poder aquisitivo e pegam todos os familiares do refém em um momento
bastante fragilizado. Como no princípio as informações são muito insuficientes
para que a polícia possa desencadear qualquer tipo de ação os familiares
acreditam em qualquer coisa e pessoa que lhe traga alguma esperança. É neste
momento que entra a figura do vidente e diz saber onde fica o cativeiro.
A
família se alvoroça toda e leva esta “preciosa” informação aos policiais civis
que estão trabalhando no caso que pela experiência em casos passados sabe se
tratar de espertalhões no sentido de também, da mesma forma que os
sequestradores, querem tirar alguma vantagem daquela situação de momento. Os
policiais atendendo ao pedido da família pedem então que o vidente os leve até
o local do cativeiro sendo acompanhados por alguém da família. Normalmente o
cativeiro é um campo, cheio de árvores, perto de um lago onde tem um barraco
caindo aos pedaços. Chegando onde o vidente teria visto o cativeiro que
normalmente não é localizado por ele nem existindo a paisagem por ele narrada
orientamos a família sobre este tipo de pessoas que irão tentar se aproveitar
da situação. Após este primeiro desencanto com o vidente e alertado pelos
policiais a família recusa-se a receber outras pessoas com a mesma história.
Quando
a polícia recebe qualquer tipo de informação e após um interrogatório e havendo
uma pequena possibilidade de que a informação seja verdadeira as pistas são
investigadas mesmo que seja somente para desencargo de consciência.
Assim
no caso específico da carta recebida pelo advogado da família da vítima
entregue pela mãe de Eliza Samudio o que compete à Polícia Civil através da
DHPP – Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa – é realmente de tentar
localizar referido poço e ali proceder a uma investigação e com o auxílio do
Corpo de Bombeiros, caso seja localizada a cisterna os mesmos entrarão e ali
farão uma vistoria.
O
problema relacionado a este tipo de informação é a polícia saber se a
informação é apenas para encobrir e diversificar as investigações dificultando
o trabalho para não se chegar ao resultado final. Ou se realmente trata-se de
alguém que possui algum conhecimento sobre o crime e utiliza deste subterfúgio
no sentido de apontar realmente o local sem, no entanto aparecer e não ser ao
final reconhecido como um “dedo duro”.
Desta
forma apesar de todos os cuidados que se deve tomar com alguma informação
anônima, se ela vem revestida de alguma veracidade deve ser prontamente investigada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário