quarta-feira, 21 de março de 2012

A MORTE DO CINEGRAFISTA NO RJ

Elson Matos da Costa, Delegado Geral de Polícia, chefiou o DEOEsp – Departamento Estadual de Operações Especiais – e é Coordenador/Professor de TAP – Técnicas de Ação Policial – na ACADEPOL/MG – Academia de Polícia Civil de Minas Gerais.

O Rio de janeiro vive uma peculiaridade diferente de outros estados brasileiros onde constantemente a polícia está em confronto armado com traficantes. Em lugar nenhum os policiais detêm a mesma experiência e caso precisem de algum treinamento nesta área, combate em ambiente urbano, necessariamente terão de se deslocar para aquela Cidade Maravilhosa (a cidade ainda continua linda) e ali trabalhar com o BOPE – Batalhão de Operações Policiais Especiais – da Polícia Militar ou com a CORE – Coordenadoria de Recursos Especiais – da Polícia Civil que mantém cursos específicos nesta área dada a profissionalização que possuem.

Naquele estado, todas as vezes que equipes saem para cumprir qualquer missão estarão estes policiais preparados para o pior e é muito comum nestas incursões a troca de tiros com os marginais muito bem equipados e com enormes quantidades de fuzis nos calibres 556 e 762. Estas armas são utilizadas normalmente nas guerras pelo mundo afora e é uma guerra urbana que se vive nos morros cariocas. Os policiais diante desta agressividade de seus contendores deverão estar mais bem preparados para este combate assim como em seus equipamentos, incluindo armamentos iguais aos que irão enfrentar e é isto o que realmente acontece.

Os treinamentos pelos quais passam os policiais destas duas instituições são extremamente rígidos como já vistos no cinema quando da exibição do filme Tropa de Elite com relação ao orgulho de se pertencer ao BOPE tendo o mesmo grau de dificuldade na CORE para quem desejar ingressar em seus quadros. Somente os melhores serão aproveitados e conseguirão chegar até o final.

É evidente que referidas operações exaustivamente mostradas pela TV através dos repórteres/cinegrafistas que acompanham referidas operações trazem a todos nós que estamos atrás da telinha a realidade nua e crua de um combate extremamente feroz onde em não poucas vezes, sendo, aliás, uma realidade em quase todas as operações o tombamento de algum (ns) integrante (s) das forças policiais ou do lado dos traficantes. Pelo treinamento que são submetidos os policiais ao se defrontarem com bandidos não tão bem preparados física e tecnicamente aqueles acabam levando vantagem nesta guerra. Ainda bem. Imagine o que seria do Rio de Janeiro e do nosso país se a lógica se invertesse, estaria instalado o caos. Apesar do que acontece no Rio de Janeiro as duas corporações acima citadas são extremamente respeitadas pelos foras da lei já que sabem que estarão em desvantagem sempre num confronto armado.

Os profissionais civis, repórteres e cinegrafistas que acompanham estes valorosos combatentes também sabem dos riscos que podem lhe acometer. No último dia 06 de novembro além de outros companheiros de várias mídias estava presente o cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos e pelas filmagens pôde se notar o extremo estresse em que todos estavam quando começou uma troca de tiros. Pela própria câmera deste cinegrafista notamos que ele se encontrava atrás de um policial o qual estava abrigado atrás de uma árvore. O policial chegou a fazer alguns disparos e a imagem mostrada pelo cinegrafista nos faz crer que ele na ânsia de mostrar a melhor imagem, próprio dos grandes profissionais que não perdem a oportunidade mesmo com o risco de perder a própria vida se expôs mais do que o necessário e acabou recebendo um tiro no peito. O próprio policial décimos de segundos antes se abaixou, pois um tiro havia sido disparado em sua direção e caso não estivesse abrigado atrás da árvore teria sido atingido mortalmente como aconteceu com o repórter. O próximo tiro o acertou no peito transfixando o seu colete balístico tendo o cinegrafista sido atendido pelos policiais e levado ao hospital mais próximo onde já chegou sem vida.

Neste tipo de confronto onde do outro lado estão traficantes armados de fuzis a única possibilidade dos policiais e repórteres que tenham a obrigação de trabalhar e cobrir esta operação é utilizar coletes balísticos com placas de cerâmicas o que não era o caso de Gelson Domingos. Este tipo de equipamento é bastante pesado e limita muito os movimentos e somente quem estiver muito bem preparado fisicamente consegue realizar distâncias maiores como uma subida de morro com ele sem cair esgotado. Dependendo da cada um dos fabricantes deste colete a placa de cerâmica pode pesar até 02 (dois) quilos podendo ser usada duas, uma na frente e outra nas costas. Dificulta os movimentos. Além do mais, este tipo de equipamento é regulamentado pelo Exército e somente com o aval dele é que é possível comprar, normalmente somente para as forças policiais o que não quer dizer que empresas de comunicação não consigam esta autorização.

Entendo importante aos repórteres e cinegrafistas que fazem este tipo de cobertura que tenham treinamento nas forças policiais e assim possam entender como é que funciona um combate armado. Aprenderá os riscos que está correndo numa troca de tiros e como poderá se defender atendendo a todas as determinações oriundas da equipe policial que estiver acompanhando e sabendo o que poderá ou não fazer quando houver uma possibilidade ou situação real de troca de tiros. Desta forma conseguirá sobreviver nesta profissão também arriscada. Para isto precisará estar consciente de que tiro não procura apenas policiais, mas sim qualquer inocente que também esteja passando pelo local e que os projéteis destes fuzis percorrem centenas de metros até se tornar inerte, ou seja, neste percurso poderá fazer vítimas. É o que se chama de “bala perdida” que encontra uma vítima.

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